A pandemia de covid-19 provocou uma “catástrofe histórica” nas exportações nacionais, com uma queda de 13%, ainda sem contar com estes meses do novo confinamento que está a atingir vários países por todo o mundo. Contudo, há cinco países da União Europeia que estão a comprar mais em Portugal.
Estes dados são divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no relatório “Estatísticas do Comércio Internacional” que se reporta aos primeiros nove meses de 2020 e onde se assinala que se verificaram “decréscimos em todas as grandes categorias, em ambos os fluxos [exportações e importações], excepto nas exportações de ‘produtos alimentares e bebidas’, que aumentaram 92 milhões de euros“.
Este acréscimo verificou-se sobretudo na sub-categoria de “produtos transformados destinados principalmente ao consumo dos particulares“, cujas exportações aumentaram 68 milhões de euros, de acordo com o INE.
Em termos de taxas de variação homóloga, o INE refere que as exportações de ‘produtos alimentares e bebidas’ têm evoluído “de forma mais favorável” que as exportações globais, apresentando uma variação positiva na maioria dos meses do ano, atingindo mais 5,2% em Setembro.
Até Setembro, as ‘frutas, cascas de citrinos e de melões’ foram o capítulo com maior aumento (+68 milhões de euros), seguindo-se as ‘gorduras e óleos, animais ou vegetais, ceras, etc.’ (+50 milhões de euros), os ‘açúcares e produtos de confeitaria’ (+29 milhões de euros), as ‘preparações de carnes, peixes, crustáceos e moluscos’ (+24 milhões de euros) e as ‘carnes e miudezas, comestíveis’ (+23 milhões de euros).
No seu conjunto, estes cinco capítulos foram responsáveis por um aumento de 193 milhões de euros nas exportações.
Em sentido contrário, destacou-se o decréscimo de ‘peixes, crustáceos e moluscos’ (-156 milhões de euros).
Espanha lidera compra de produtos alimentares
De acordo com o INE, o país que mais contribuiu para o aumento das exportações portuguesas de ‘produtos alimentares e bebidas’ foi Espanha (+26 milhões de euros), devido sobretudo às ‘frutas, cascas de citrinos e de melões’ e ‘gorduras e óleos’, tendo sido o principal cliente das exportações nacionais de ‘produtos alimentares e bebidas’.
Já o Reino Unido foi responsável pelo segundo maior aumento (+24 milhões de euros), sobretudo pela evolução registada nas exportações de ‘preparações à base de cereais, amidos, ou de leite, etc.’ e ‘preparações de produtos hortícolas, de frutas, etc.’.
Seguiram-se os Países Baixos (+20 milhões de euros), devido sobretudo ao acréscimo das exportações de ‘frutas; cascas de citrinos e de melões’), a China (+16 milhões de euros, com ‘carnes e miudezas, comestíveis’), e Israel (+14 milhões de euros, maioritariamente, com ‘animais vivos’).
Aumento das exportações para 5 países
De destacar ainda que, apesar da pandemia, há cinco países da União Europeia (UE) para onde as exportações portuguesas aumentaram, segundo o Jornal de Negócios. São eles, respectivamente, Irlanda, Suécia, Dinamarca, Roménia e Hungria.
“Entre Janeiro e Setembro, as vendas para estes cinco países juntos subiram 5%, o equivalente a um ganho de quase 80 milhões de euros“, como atesta o jornal económico com base nos dados publicados pelo INE nesta segunda-feira.
As vendas para a Irlanda aumentaram 15% face a 2019, o que significa ganhos de mais 47 milhões de euros, com destaque, sobretudo, para medicamentos, combustíveis e bens para a indústria alimentar.
No caso da Suécia, houve uma subida de 5% nas exportações de Portugal, com um crescimento de mais 21 milhões de euros relativamente a 2019.
As compras da Dinamarca cifraram-se em 9 milhões de euros e as da Roménia e Hungria juntas em mais 3 milhões.
Queda “histórica”. Pior só durante a crise de 2009
No terceiro trimestre de 2020, as exportações e as importações de bens diminuíram, respectivamente, 3,3% e 13,8% face ao terceiro trimestre de 2019 (-6,7% e -18,1%, pela mesma ordem, no trimestre terminado em Agosto de 2020).
De acordo com o INE, em Setembro, tendo em conta os principais países de destino em 2019, nas exportações destacam-se face ao mesmo mês de 2019 o aumento para Espanha (+6,7%) e a diminuição para o Reino Unido (-11,3%, principalmente ‘material de transporte’).
Nas importações, registaram-se decréscimos em quase todos os principais parceiros, destacando-se as diminuições de França (-27,2%), sobretudo ‘material de transporte’ (maioritariamente aviões) e de Espanha (-6,7%), sobretudo pela evolução dos ‘combustíveis e lubrificantes’.
Os valores divulgados constituem “o segundo pior desempenho de que há registo quando se compara com igual período do ano precedente”, como vinca o Dinheiro Vivo que fala de uma “catástrofe histórica”.
“Nos últimos 26 anos, as exportações só caíram três vezes nesta altura do ano”, reforça o diário económico, referindo-se aos meses de Verão. A pior altura foi em 2009, em plena crise global, com uma queda de 23%.
Importações de Angola desceram 50%
Relativamente a Angola, Portugal exportou, nos primeiros oito meses deste ano, bens e serviços no valor de 940,1 milhões de euros, o que revela uma descida de 32,2% face aos 1.386,6 milhões de euros vendidos de Janeiro a Agosto de 2019.
Em sentido contrário, Portugal comprou a Angola bens e serviços no valor de 391,7 milhões de euros, o que compara com os 782,1 milhões gastos no mesmo período de 2019, o que representa uma descida de 49,9%, essencialmente explicada pela quebra no preço do petróleo, que se agravou nos últimos meses.
Olhando para os últimos cinco anos do histórico de compras e vendas entre Portugal e Angola, por exemplo, em 2015, o saldo da balança comercial foi favorável a Portugal em 2.325,3 milhões de euros, tendo descido em 2016 para 1.639,6, e recuperado novamente em 2017 para 2.526,5 milhões, mas desde então tem estado a descer.
Em 2018, a diferença entre as exportações e as importações reduziu-se para 1.493,4 milhões, e no ano passado encurtou-se ainda mais para menos de 900 milhões de euros.
Relativamente à importância de Angola como cliente, comprova-se uma descida do país africano no ranking dos maiores clientes de Portugal, tendo passado de sexto, em 2015, para nono no ano passado.
Em sentido inverso, isto é, das vendas de Angola a Portugal, o panorama degradou-se ainda mais: Angola passou de nono fornecedor de Portugal em 2015 para 17º no ano passado, com a percentagem de vendas a Portugal a cair de 1,9% para 0,8% nos últimos cinco anos.
Em 2016, o número de empresas portuguesas que operava em Angola conheceu uma forte redução, de 7465 para 5514, tendo depois subido para mais de 5850 em 2017 e desde então tem vindo a descer ligeiramente, havendo, no ano passado, 5151 negócios portugueses neste país africano.
As Máquinas e Aparelhos, os Produtos Agrícolas e Químicos e os Alimentares representam mais de 60% do total das exportações de Portugal para Angola, enquanto que Portugal importa, na sua esmagadora maioria, apenas petróleo, que vale 98,5% das vendas de Angola para Portugal.
ZAP // Lusa