O primeiro jornal a noticiar a vitória dos militares no 25 de Abril fechou dois anos depois. Teve um “efeito tremendo” no PREC.
O jornal República já tinha sido fundado em 1911. Sim, logo a seguir à implantação da… República. Foi criado por António José de Almeida.
O República foi transformado significativamente em 1972. Passou a ser liderado pelo socialista Raul Rêgo. Mário Soares era colaborador de uma redacção que tinha nomes como Mário Mesquita, Jaime Gama ou José Jorge Letria.
O mesmo jornal protagonizou um dos episódios quentes que um período já muito quente: PREC – Processo Revolucionário Em Curso.
Houve greves logo depois do 25 de Abril. Para uns, por motivos apenas laborais; para outros, era uma tentativa de controlo politico por parte do PS – no único jornal que não era controlado a nível editorial pelas forças do PREC.
“Chamam-nos neo-revisionistas”, dizia um dos elementos da altura.
Quase 50 anos depois, Eugénio Alves admite que ainda há muitas dúvidas sobre o que estava a acontecer nos bastidores do jornal.
“Era um jornal unitário e anti-fascista. Depois do 25 de Abril, a maioria da redacção notou uma tentativa de condicionamento por parte do Partido Socialista“, começa por relatar, na RTP.
“Queríamos manter o espírito unitário e elegemos um conselho de redacção que defendesse esse espírito. Essa decisão não caiu bem na direcção do jornal – que era socialista”.
“A direcção sentiu que não tinha o apoio da maioria e começou a pressionar jornalistas” – alguns foram convidados a sair e, nos meses seguintes, os gráficos contestaram a saída de cerca de cerca de 10 jornalistas.
Já no Verão quente de 1975 a demissão de Mário Soares do Governo de Vasco Gonçalves esteve muito relacionada com o República.
“Houve um aproveitamento inteligente, embora demagógico, de Mário Soares. Inclinou muito o PS para o centro e direita. Isso foi muito aproveitado durante o PREC”.
Com tudo isto, o caso República teve um “efeito tremendo” no fim do PREC, analisa Eugénio Alves.
O República foi o primeiro jornal a publicar uma edição sem censura. E, naquela quinta-feira, os jornalistas não hesitaram em colocar na primeira página a vitória dos militares.
“Nós estávamos dentro, havia contactos com o Movimento das Forças Armadas”, lembra Eugénio, que contou um episódio curioso da hora de almoço do dia 25 de Abril de 1974.
“Eu estava junto ao Rádio Clube Português. Chega um Coronel que garantiu que os militares tinham tomado o poder. Pedi a uma vizinha das instalações da rádio, liguei para o chefe a anunciar a notícia. Ele quase insultou-me, tinha Guarda republicana atrás. E eram 13h, as coisas não estavam resolvidas”.
Mas a Revolução estava mesmo a acontecer. E o República foi o primeiro jornal a sair com essa informação: os militares tinham tomado conta do poder.
O jornal fechou em 1976 depois das lutas evidentes entre socialistas e comunistas.