Sharon Estill Taylor tinha apenas três semanas de idade quando o pai desapareceu na Segunda Guerra Mundial, em 1945. Em 2006, as cartas de amor que os pais trocaram ajudaram a filha a encontrar o corpo do pai.
Depois de décadas de trabalho de detetive, Sharon Estill Taylor finalmente devendou o mistério do paradeiro do seu pai, Shannon Estill, um piloto cujo avião foi abatido na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, em Abril de 1945.
Na altura, Sharon tinha apenas três semanas de vida e nunca foi encontrado o corpo ou alguma mensagem que indicasse que o piloto tivesse conseguido abandonar o avião antes de este ser atingido. O seu pai acabou por ser declarado morto em combate, apesar de o corpo nunca ter sido encontrado.
As cartas de amor que o piloto, na altura com 22 anos, trocava com a sua mulher Mary desde que os dois estudavam no secundário, deixaram de vir. A sua avó acabou por lhe dar uma caixa com cerca de 450 cartas trocadas entre os seus pais, desde o início da relação dos dois até à ida do piloto para a guerra, no Outono de 1944.
Nos anos 90, já com os seus filhos adultos, Sharon passou um Verão inteiro a transcrever as cartas, acabando com um total de 3000 páginas. Nas cartas, o pai relatava o quanto amava a mãe, os perigos da guerra e até desenhou um esquema com métodos diferentes de mudar fraldas, quando a gravidez da mulher estava perto do fim, relata a National Geographic.
Poucas semanas depois da bebé nascer, Estill endereçou uma carta para as suas “Meninas Anjo”. Tinha apenas mais uma missão para voar antes de poder voltar para casa de licença e até prendeu uma botinha de bebé ao seu capacete para dar sorte.
Sharon usou as cartas para encontrar as peças que faltavam do puzzle, em conjunto com a informação dos Arquivos Nacionais e da Biblioteca do Congresso, e descobriu que a 13 de Abril de 1945, o pai tinha partido com 10 outros pilotos para atacar uma estação ferroviária e destruir a rede de distribuição dos mantimentos para os nazis.
Os arquivos faziam referência a um possível acidente perto da vila de Elsnig, na Alemanha de leste. Com a queda do muro de Berlim em 1989, já era possível visitar o sítio onde o avião se teria despenhado. Sharon falou com o historiador da aviação militar alemã Hans-Guenther Ploes, que a ajudou a encontrar e identificar qualquer aeronave que tivesse restos humanos.
Ploes descobriu a data da placa do avião do pai de Sahron em 2003 e encontrou ainda fragmentos de ossos nas imediações. Foi enviada uma equipa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos para a Alemanha que, em 2005, fez uma escavação ao longo de três semanas.
Sharon afirma que desde o momento em que pôs os pés no local, conseguia sentir a presença do seu pai e os testes de ADN confirmaram que os restos mortais eram seus.
Num dia soalheiro em Outubro de 2006, a família pôde finalmente despedir-se de Shannon Estill e enterrar o seu corpo. Sharon cumpriu assim a promessa que tinha feito à avó paterna aos sete anos, quando lhe garantiu que ia trazer o pai para casa.
“Queria saber a verdade. Queria que a memória dele e do que ele fez nunca fosse esquecida”, remata Sharon.