Cartas de amor para soldados franceses abertas pela primeira vez 200 anos depois

Renaud Morieux / Atquivos Nacionais

Cerca de 104 cartas, escritas maioritariamente por mulheres aos seus filhos e maridos, ficaram esquecidas durante 200 anos.

Cartas de amor esquecidas durante 200 anos nos arquivos militares britânicos finalmente foram reveladas, graças ao trabalho de um professor da Universidade de Cambridge.

Essas correspondências, escritas no século XVIII para marinheiros franceses durante a Guerra dos Sete Anos entre França e Grã-Bretanha, nunca chegaram aos seus destinatários. Agora, elas oferecem uma visão íntima e única da história.

Inicialmente consideradas documentos sem interesse militar, estas 104 cartas foram transferidas para os Arquivos Nacionais Britânicos, onde permaneceram esquecidas numa caixa até chamarem a atenção de Renaud Morieux, professor de História da Universidade de Cambridge. “Simplesmente pedi para consultar esta caixa por curiosidade”, disse o pesquisador. Os seus achados foram posteriormente publicados na revista acadêmica Annales Histoire Sciences Sociales.

“Percebi que era a primeira pessoa a ler estas mensagens muito pessoais”, agrupadas em três pilhas e atadas por fitas. “Os seus destinatários não tiveram tanta sorte e foi muito comovente“, explicou, acrescentando que as cartas contêm “experiências humanas universais”.

Escritas principalmente por mulheres, estas cartas testemunham a experiência de esposas, mães e noivas em tempos de guerra, forçadas a gerir a casa sozinhas e tomar decisões na ausência dos seus maridos e filhos.

Morieux identificou cada um dos 181 membros da fragata Galatée, um quarto dos quais tinha recebido estas cartas, e também realizou pesquisas genealógicas sobre os marinheiros e os autores das cartas, explica a Euronews.

Em 1758, um terço dos marinheiros franceses foi capturado pelos britânicos. Durante toda a Guerra dos Sete Anos, vencida pela aliança liderada pela Grã-Bretanha e Prússia, 65.000 foram detidos pelos britânicos. Muitos morreram de doenças e desnutrição, enquanto outros foram libertados.

Durante esse período, as cartas eram a única forma de as famílias tentarem contactar os seus entes queridos.

“Essas cartas são sobre experiências humanas universais, não são exclusivas da França ou do século XVIII”, acrescentou o professor Morieux. “Elas revelam como lidamos com grandes desafios da vida. Quando estamos separados de entes queridos por eventos além do nosso controle, como a pandemia ou guerras, temos que descobrir como manter contacto, como tranquilizar, cuidar das pessoas e manter a paixão viva”, disse o historiador.

Marie Dubosc, em 1758, escreveu ao marido Louis Chambrelan, primeiro-tenente da fragata francesa Galatée, capturada pelos britânicos, expressando o seu amor eterno. Louis nunca recebeu a carta e a sua esposa morreu no ano seguinte, quase certamente antes de ele ser libertado pelos britânicos.

Em outra carta datada de 27 de janeiro de 1758, a mãe do jovem marinheiro Nicolas Quesnel da Normandia repreende-o pela falta de comunicação. “Penso mais em ti do que tu em mim… De qualquer forma, desejo-te um feliz ano novo cheio de bênçãos do Senhor”, escreveu Marguerite, de 61 anos, provavelmente ditando a carta para outra pessoa.

Mas a Galatée, que partiu de Bordéus para Quebec, foi capturada no Atlântico e levada para Plymouth, na costa sul da Inglaterra, e depois finalmente para Portsmouth.

As cartas seguiram o navio de porto em porto até ser capturado, chegando também à Inglaterra.

ZAP //

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