‘Cápsula do tempo’ revela nova pista sobre a extinção dos megalodontes

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A temperatura corporal de um dos predadores mais poderosos de sempre pode ter contribuído para a sua extinção.

A frieza com que matava as presas, contrasta com a quentura que o terá matado.

O megalodonte é – ou foi – um dos predadores mais mortíferos que os oceanos já viram. Viveu entre 23 e 3,6 milhões de anos atrás.

A temperatura corporal terá sido determinante para a extinção dos megalodontes.

A conclusão é de um estudo, publicado na PNAS, em junho, que analisou os dentes fósseis desta espécie extinta há mais de três milhões de anos.

Os investigadores descobriram que o megalodonte conseguia elevar a sua temperatura corporal em cerca de 7ºC acima do ambiente circundante, o que indica que era endotérmico.

Embora lhe proporcionasse vantagens na caça, a endotermia também lhe trouxe complicações.

“O tamanho corporal gigantesco, com altos custos metabólicos de ter temperaturas corporais altas, pode ter contribuído para a vulnerabilidade da espécies, quando comparado com outros tubarões simpátricos que sobreviveram à época do Plioceno“, escreveu a equipa, liderada pelo geoquímico Michael Griffiths, da William Paterson University.

Espécies simpátricas são aquelas que evoluíram a partir de uma única espécie ancestral, enquanto ocupavam a mesma área geográfica, e, portanto, sujeitas às mesmas condições.

A equipa de investigação explorou a temperatura corporal do megalodonte, através da análise isotópica de dentes fósseis.

Estes registos isotópicos são como cápsulas do tempo, que contêm detalhes sobre a vida de um organismo que podem ser descodificados.

Como explica o Science Alert, foi analisada uma proporção de isótopos de oxigénio do fosfato em bioapatite, um mineral encontrado nos ossos de vertebrados.

Esta proporção é capaz de revelar a composição isotópica da água corporal de um organismo e a sua temperatura corporal.

Sangue quente, coração frio…

“Os resultados mostram que os megalodontes tinham uma temperatura corporal mais quente, em relação a outras espécies de tubarões coexistentes e ao ambiente que os envolvia”, revelaram os investigadores.

Pesquisas anteriores indicaram que a endotermia está associada a um elevado risco de extinção entre espécies de grande porte.

Esta característica é, por exemplo, observada em alguns tubarões modernos – exemplo disso é o tubarão-branco.

Embora o megalodonte não seja da mesma família do tubarão-branco, os cientistas dizem que fazem da mesma ordem, Lamniformes – conhecidos pelas suas altas velocidades de natação e endotermia parcial regional, onde os músculos aquecem o sangue venoso, mantendo os seus músculos de natação e cérebros quentes.

Isto resulta num metabolismo mais eficiente, resistência a ambientes frios e melhor desempenho na caça e digestão de alimentos.

Embora estas características ofereçam vantagens significativas, a pesquisa sugere que elas também podem ter contribuído para a vulnerabilidade da espécie.

Como grande predador, o megalodonte teria elevadas exigências bioenergéticas. Esta situação delicada pode ter sido impulsionada pelas perturbações do nível das águas do mar, ocorridas durante o período do Plioceno, que levou à alteração dos habitats costeiros e diminuição de caça.

Estas descobertas oferecem uma nova visão sobre a vida e extinção do megalodonte, mostrando que até mesmo o maior dos predadores não se livra das alterações climáticas.

Os investigadores destacam a necessidade de proteger os tubarões atuais, que podem enfrentar desafios semelhantes devido crise ambiental vigente.

Miguel Esteves, ZAP //

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