A praça Itália em Santiago, capital e epicentro das manifestações no Chile, acordou hoje sem militares nas ruas pela primeira vez desde o início dos protestos na passada sexta-feira e nos quais já morreram pelo menos 18 pessoas.
A capital chilena tenta agora recuperar a normalidade, com o metropolitano de Santiago a funcionar parcialmente em três linhas, o serviço urbano de autocarros a operar normalmente e as lojas a reabrir portas.
“A situação de ordem pública e de segurança dos cidadãos está a melhorar”, assegurou o Presidente do Chile, Sebastián Piñera, que ainda mantém quase todo o país em estado de emergência, com as forças armadas encarregadas de garantir a segurança, após ter voltado a decretar na noite passada o recolher obrigatório em muitas cidades.
No entanto, várias escolas e universidades continuam com aulas suspensas e, pelo menos até hoje, os dias continuam com a mesma rotina, com milhares de cidadãos a concentrarem-se em diferentes praças e ruas de maneira pacífica.
Paralelamente às concentrações pacíficas, alguns grupos continuam a provocar distúrbios e a queimar e saquear espaços comerciais e hotéis, como aconteceu na quarta-feira.
Após uma semana de protestos contra o aumento do preço dos bilhetes do metropolitano na região da capital chilena, as manifestações aumentaram de tom na passada sexta-feira com incêndios em estações de metro, supermercados e armazéns com grupos de pessoas a saquear lojas.
Com a declaração do estado de emergência e a presença das forças policiais e militares nas ruas, houve vários casos de alegados abusos e violações de direitos humanos.
Segundo o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile (INDH), um organismo público independente, pelo menos cinco das 18 vítimas mortais até agora registadas deveram-se a ações das forças de segurança.
Em seis dias de protestos, o INDH contabilizou 2.410 detidos, dos quais 898 em Santiago, e 535 feridos, dos quais 210 por armas de fogo, números estes superiores aos do último relatório do Governo chileno, que referiu apenas 197 feridos até quarta-feira.
A organização de direitos humanos já entrou com 55 ações judiciais pelas situações relatadas durante os confrontos entre manifestantes e as forças de segurança.
Os manifestantes exigem ao Governo chileno que ponha em prática reformas estruturais nos subsídios de reformas e pensões, educação e saúde, por forma a acabar com a desigualdade social entre os cidadãos.
Hoje de manhã [hora local], a Câmara dos Deputados aprovou, com 67 votos a favor, 31 contra e 14 abstenções, uma comissão para investigar os ministérios do Interior e da Defesa na sequência da declaração do estado de emergência e a atuação das forças de segurança, polícias e militares na repressão das manifestações.
// Lusa