Uma britânica que alegou falsamente ter sido violada por vários homens e traficada por uma gangue asiática foi condenada a oito anos e meio de prisão.
No julgamento finalizado na terça-feira, foi concluído que Eleanor Williams, de 22 anos, causou ferimentos em si mesma usando um martelo, publicando depois as imagens nas redes sociais, onde alegou ter sido vítima de agressões.
A jovem já havia sido declarada culpada em janeiro, mas, no mês passado, anunciou que iria apelar contra uma testemunha. Durante as audiências, foi relatado que três homens acusados por Eleanor tentaram tirar as próprias vidas depois de se tornarem alvos e sofrerem “o inferno na terra”.
Um deles, Jordan Trengove, passou 73 dias na prisão, dividindo cela com um agressor sexual condenado. Jordan e Eleanor saíram à noite em março de 2019, quando a jovem foi levada para casa por estar embriagada. Mais tarde, alegou que Jordan a violou naquela noite.
Segundo a defesa, após as acusações, a casa de Jordan foi vandalizada.
O empresário Mohammed Ramzan, para quem Eleanor alegou ter trabalhado, foi acusado de prepará-la desde os 12 anos para se prostituir em bordéis em Amsterdão. Ele disse ter recebido “inúmeras ameaças de morte” nas redes sociais.
Eleanor disse à polícia ter sido levada por Mohammed à cidade de Blackpool para forçadamente fazer sexo com vários homens em endereços diferentes.
Nas investigações, a polícia descobriu que a jovem havia viajado para a cidade sozinha e havia se hospedado num hotel, onde esteve a ver a vídeos no YouTube – saindo apenas para comprar massa instantânea numa loja próxima.
Enquanto isso, Oliver Gardner disse que um encontro casual com Eleanor levou-o a ser acusado de violação. Foi ainda acusado de a ter traficado e “vendido” para dois asiáticos. Devido às acusações, foi internado segundo leis relativas à saúde mental.
O juiz Robert Altham afirmou que Eleanor passou por dificuldades desde a infância e tinha um histórico de automutilação. No entanto, considerou que as acusações da jovem eram muito graves e disse ser preocupante que não tenha demonstrado “nenhum sinal significativo de remorso” e não tenha dado “nenhuma explicação” sobre as razões pelas quais “cometeu esses crimes”.
Descrevendo as alegações como “total ficção”, o juiz disse: “A menos, e até que a ré decida dizer por que contou essas mentiras, não saberemos”. “Ela fez de tudo para criar acusações falsas, incluindo causar ferimentos significativos a si mesma”, continuou.
As acusações criaram um “estado de tensão elevada” na cidade natal da jovem, Barrow, durante cerca de quatro meses. A polícia descreveu a turbulência como algo não visto na cidade há décadas.
Após Eleanor ter publicado as fotos em que aparecia com ferimentos, em maio de 2020, houve caravanas de manifestantes de cidades próximas e protestos.
Antes de o juiz Altham anunciar a sentença, a defesa leu uma carta de Eleanor, na qual disse que sabia que havia “feito coisas erradas em parte” e que “lamentava”, mas acrescentou que não sentia culpada.
Eleanor disse que estava “devastada” com o “problema causado” pela publicação no Facebook. Mas “tudo o que aconteceu na comunidade não foi instigado por mim”, acrescentou.
Jordan disse a jornalistas que, para ele, a sentença não foi dura o suficiente. Já Mohammed disse que não sentiu “nenhuma sensação de triunfo, apenas tristeza. Não tenho certeza de como minha família e eu nos vamos recuperar disto”.
Matthew Pearman, da polícia do condado de Cumbria, disse que as alegações de Eleanor “não poderiam ter sido levadas mais a sério quando apresentadas”. “Este foi um caso longo, complexo e trágico, bem como um período sombrio para Barrow”, sublinhou o responsável.
“Espero que a história completa, agora de conhecimento público, demonstre que a polícia leva os abusos sexuais e físicos extremamente a sério e investigará as acusações minuciosamente”, frisou.
ZAP // BBC News Brasil
À atenção de quem pensa que os acusadores nunca mentem, sejam eles homens, mulheres, crianças, pretos, brancos, trans ou o que for…