Brinícula. O “dedo da Morte” que congela tudo no seu caminho e que pode ser o berço da vida

BBC Earth/Youtube

Uma brinícula, filmada nas profundezas do Oceano Antártico

Vive um “monstro” em mares com temperaturas baixas que tem um efeito devastador sobre a vida marinha em seu redor. Quando o “dedo da morte” passa, tudo fica instantaneamente congelado. Mas o que é este fenómeno?

À primeira vista, é uma estalactite como as que encontramos em cavernas, só que perdida no oceano; à segunda, é claramente o maior pesadelo das criaturas do fundo do mar.

É, de facto, tubo de gelo que chega da superfície. O fenómeno foi capturado em vídeo pela primeira vez em 2011, dando aos cientistas uma oportunidade única de estudar a sua formação e impacto em tempo real.

Os cientistas rapidamente perceberam que aquilo que hoje é referido como brinícula — também conhecido como pingente de salmoura ou dedo gelado da Morte — se forma em redor de uma corrente de água salgada e super-resfriada, tão salina e fria que congela instantaneamente a água circundante à medida que vai descendo, formando uma estrutura tubular de gelo.

Como se formam as brinículas?

Investigações científicas revelaram o mecanismo por trás da formação destas estranhas extensões de gelo, que surgem de água rica em sal que escapa do gelo marinho, e como este fenómeno poderá estar ligado às origens da própria vida.

Os “dedos da morte” formam-se através de um processo semelhante ao das chaminés hidrotermais no fundo do oceano, mas em sentido inverso, segundo estudo publicado na revista Langmuir da American Chemical Society.

Enquanto as chaminés hidrotermais são torres espinhosas criadas por água quente e ricas em químicos que fluem do fundo do mar, as brinículas surgem quando uma salmoura rica em sal escapa das fraturas no gelo marinho e desce para o oceano, de acordo com o Live Science.

A salmoura é mais fria do que o ponto de congelação da água do mar devido à sua alta concentração de sal. Quando o gelo marinho congela nas regiões do Ártico e Antártida, o sal e outros iões são excluídos dos cristais de gelo em formação, acumulando-se nas fraturas e compartimentos do gelo marinho.

Inevitavelmente, o gelo marinho fissura e a salmoura escapa, interagindo com a água do mar, mais abaixo. Devido ao efeito de osmose, a água é atraída para a salmoura e congela ao entrar em contacto, resultando na formação de um tubo de gelo descendente, ou brinícula.

Será o “dedo da Morte” o berço da vida na Terra?

O mesmo estudo sugere que o ambiente de salmoura rica em sal dentro do gelo marinho pode ter sido fundamental para a formação da vida.

Os compartimentos de salmoura têm altas concentrações de compostos químicos, lípidos e uma mistura de componentes ácidos e básicos que podem atuar como uma membrana primitiva — uma das condições necessárias para a vida.

O ambiente químico diversificado poderia fornecer a energia necessária para criar moléculas complexas, possivelmente até mesmo o ADN. Esta é uma das teorias, mas não a única.

Uma outra corrente de pensamento sugere que a rejeição de sal do gelo marinho pode ter criado condições compatíveis com as origens da vida e que tal fenómeno pode estender-se a outros mundos distantes, como por exemplo a lua Ganimedes de Júpiter, que pode ser a casa de um oceano coberto de gelo. Coloca-se a questão: será que as brinículas tiveram um papel na sua formação?

Quer seja no Ártico gelado ou nas chaminés hidrotermais a ferver, os princípios por trás destes “jardins químicos” podem oferecer um vislumbre das origens mais antigas da vida.

Tomás Guimarães, ZAP //

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