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Brexit venceu em Melgaço (o documentário…)

Four Seasons in a Day foi o documentário que ficou com o prémio principal no Festival Internacional de Documentário de Melgaço.

O impacto do ‘Brexit’ nos habitantes de uma ilha da Irlanda do Norte, filmado pela cineasta belga Annabel Verbeke, em “Four Seasons in a Day”, venceu o prémio principal do Festival Internacional de Documentário de Melgaço, que terminou neste domingo.

“No Táxi de Jack”, de Susana Nobre, conquistou o prémio de Melhor Documentário Português, segundo a decisão do júri, que distinguiu, com uma Menção Honrosa, o filme “Alcindo”, de Miguel Dores, a partir da história do homicídio de Alcindo Monteiro, em Lisboa, em 1995, num crime de ódio racial.

“Subtotals”, do iraniano Mohammadreza Farzad, recebeu o prémio de Melhor Curta-Metragem, na competição principal. Antigo discípulo do cineasta Béla Tarr, já distinguido no programa ‘Expanded’ do Festival de Berlim, Farzad faz uma ‘contagem’ de gestos quotidianos de famílias iranianas, através de pequenos filmes de 8mm, inspirado sobretudo no conto homónimo de Gregory Burnham, publicado na revista Harpers.

Nesta secção, a Menção Honrosa foi entregue a Eliane Esther Bots, por “In Flow of Words” (“No fluxo das palavras”, em tradução livre), sobre três intérpretes do Tribunal Penal Internacional, que expõem sentimentos jamais revelados nas sessões de julgamento.

O filme também ganhou o Prémio D. Quixote de Melhor Curta-Metragem, atribuído pela Federação Internacional de Cineclubes.

Nesta secção, o prémio de Melhor-Longa Metragem foi para “Heza”, de Derya Deniz, testemunho das mulheres Yazidi raptadas, violadas e traficadas, pelo grupo terrorista Estado Islâmico, no norte do Iraque, através da memória de uma das vítimas.

O vencedor do Prémio Jean-Loup Passek de Melhor Documentário, “Four Seasons in a Day” (“Quatro estações num só dia”), de Annabel Verbeke, fixa-se na perspetiva de habitantes de uma ilha da Irlanda do Norte, pela primeira vez sujeitos a uma fronteira, imposta pelo ‘Brexit’, no seu vaivém diário à Irlanda.

“Um retrato bem-humorado, leve e subtil sobre um povo preso entre fronteiras invisíveis e visíveis“, no contexto da realidade política de hoje, escreve o júri sobre a escolha, sublinhando “referências ao passado sangrento e ao que ainda está por vir”, num tempo em que “as fronteiras, em todas as dimensões, são trazidas de volta à realidade”.

O documentário de Susana Nobre, “No Táxi de Jack”, estreado no Festival de Berlim, em 2021, decorre entre Nova Iorque e Alhandra, para contar a história de Joaquim Calçada, que trabalhou como profissional de validação de competências do programa Novas Oportunidades de Vila Franca de Xira, depois de ter sido motorista de táxi e de limusines, durante décadas, em Nova Iorque.

Os locais em redor de Lisboa e as histórias das famílias que acompanha cruzam-se com o mapa social e económico da grande cidade que deixou, e com o modo como compreendeu as suas mudanças.

“Um filme que joga lindamente e artisticamente com a fronteira entre realidade e ficção“, sublinhou o júri.

O documentário “Alcindo”, de Miguel Dores, distinguido com uma Menção Honrosa, na competição nacional, aborda o assassinato de Alcindo Monteiro, cidadão português de origem cabo-verdiana, num percurso que, em vez de se centrar na violência neonazi, procura “ser uma homenagem àqueles que resistem e àqueles que caem”, como o realizador e antropólogo explicou à Lusa, antes da exibição do filme, em 2021, no DocLisboa e no festival Caminhos.

“O realizador transporta-nos para o passado colonial e traça os seus vestígios evidentes no presente, apelando ao reconhecimento da existência de um racismo enraizado no Portugal de hoje e na Europa. O filme relembra as atrocidades do colonialismo e do ódio racial. Realidades que a maioria dos europeus não racializados prefere ignorar. É ao mesmo tempo uma poderosa homenagem a quem luta contra ela”, defendeu o júri.

O Prémio Jean Loup Passek de Melhor Cartaz foi para Mafalda Salgueiro, por “Comezainas”, ‘curta’ de animação que dirigiu, com uma Menção Honrosa para Dani Sanchis, por “Sycorax”, de Lois Patiño e Matías Piñeiro.

O júri oficial desta edição do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço foi composto pela professora de cinema Aida Vallejo, a diretora do Instituto de Cinema e Artes Teatrais da Universidade da Silésia, Anna Huth, o crítico Carlos Natálio, o realizador Juan Pablo Gonzalez e a codiretora da Documentary Association of Europe Marion Schmidt.

Os prémios homenageiam Jean-Loup Passek (1936-2016), crítico francês, antigo responsável no Centro Georges Pompidou, em Paris, que ajudou a estabelecer o Museu de Cinema de Melgaço, em parceria com o Festival de Cinema de La Rochelle, que dirigiu.

A competição internacional do MDOC contou este ano com 32 filmes, de 16 países.

O festival é organizado pela associação Ao Norte com a Câmara Municipal de Melgaço e teve início no passado dia 01.

// Lusa

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