Um novo estudo revelou que as células humanas podem ter a capacidade de interromper o desenvolvimento, à semelhança de um mecanismo observado em alguns mamíferos.
Esta descoberta, feita por investigadores do Instituto Max Planck de Genética Molecular em Berlim e do Instituto de Biotecnologia Molecular em Viena, tem o potencial de transformar a nossa compreensão do desenvolvimento humano precoce e da medicina reprodutiva.
Em mamíferos como os ratos e os cangurus, um processo conhecido como diapausa embrionária permite que o embrião interrompa temporariamente o seu desenvolvimento. Esta pausa pode durar semanas ou mesmo meses, dependendo das condições ambientais.
O embrião permanece num estado de flutuação livre, atrasando a implantação no útero até que as condições sejam mais favoráveis tanto para a mãe como para a cria.
Até agora, não se sabia se as células humanas também podiam entrar nesse estado de dormência. O estudo, publicado na semana passada na conceituada revista Cell, demonstrou que as células humanas podem ter a mesma capacidade.
A investigação não envolveu embriões humanos, mas utilizou células estaminais e modelos de blastocistos chamados blastoides. Os blastoides são estruturas baseadas em células estaminais que imitam aspetos fundamentais do desenvolvimento embrionário inicial.
Os investigadores descobriram que, ao inibir a via de sinalização mTOR – um importante regulador do crescimento e desenvolvimento celular – podiam induzir um estado de dormência nas células estaminais humanas.
Durante esse estado dormente, a divisão celular diminui, o desenvolvimento é atrasado e a capacidade das células de se ligarem ao revestimento uterino é reduzida. Os investigadores descobriram que esta pausa se restringe a uma janela de desenvolvimento específica em torno da fase de blastocisto, que é a mesma fase em que a diapausa ocorre noutros mamíferos.
Estas descobertas sugerem que os humanos podem ter um mecanismo evolutivo antigo para interromper temporariamente o desenvolvimento, mesmo que já não seja utilizado naturalmente.
“Embora possamos ter perdido a capacidade de entrar em dormência durante a gravidez, estas experiências mostram que o potencial ainda existe nas nossas células”, disse Nicolas Rivron, um dos líderes da investigação, num comunicado citado pelo EurekAlert. “Pode ser um vestígio evolutivo”.
As implicações desta descoberta são de extrema importância. Por exemplo, o aumento da atividade do mTOR poderia acelerar o desenvolvimento durante a fertilização in vitro (FIV), aumentando potencialmente a taxa de sucesso da implantação do embrião.
Por outro lado, a indução de uma pausa temporária durante a FIV poderia oferecer aos médicos mais tempo para avaliar a saúde do embrião e sincronizar melhor a implantação com o ciclo reprodutivo da mãe.