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Rui Costa admite que assinava contratos sem os ler — e Vieira “não percebia de informática”

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Tânia Paulo / SL Benfica

O presidente do SL Benfica, Rui Costa.

O presidente do SL Benfica, Rui Costa.

“Se fosse ler todos os contratos não faria mais nada”, disse o presidente do Benfica em tribunal, esta quarta-feira. E recordou a revolta encarnada: “tememos o medo que os árbitros poderiam ter a apitar jogos do Benfica”.

Em tribunal esta quarta-feira na sessão inaugural do julgamento do processo “Saco Azul”, que investiga alegadas práticas de gestão danosa e prestação fictícia de serviços no seio do SL Benfica, Rui Costa admitiu assinar contratos sem os ler na altura em que exercia as funções de administrador do clube e confessou que que muitos dos documentos não eram sequer discutidos ao nível da direção.

“Se fosse ler todos os contratos que passam pelo Benfica, não faria mais nada no clube”, disse o presidente dos encarnados, citado pelo Correio da Manhã.Tinha confiança na equipa que o acompanhava na administração que está agora sob suspeita.

“Quando o caso foi tornado público, sentimos mais revolta do que preocupação, até porque sabemos que muitas vezes isto se reflete em campo. A revolta foi grande internamente, mas o foco passou a ser dentro do campo”, disse Rui Costa, acrescentando: “tememos o medo que os árbitros poderiam ter a apitar jogos do Benfica”.

Quando foi conhecida a existência de um alegado ‘Saco Azul’ no Benfica, alguma comunicação social indicou que o mesmo poderia ter sido usado para corromper árbitros, algo que não consta na acusação, como o juiz Vítor Teixeira e Costa fez questão de frisar na tarde de ontem.

“A acusação não faz a relação entre o dinheiro e o seu uso”, disse o presidente do coletivo de juízes, durante a inquirição do líder dos ‘encarnados’.

Rui Costa, o primeiro a depor, na qualidade de representante da SAD do clube, garantiu que nada o leva a crer que os contratos em causa “não tenham sido úteis e importantes para o clube, admitindo que “muitos dos contratos eram assinados sem passar pelo Conselho de Administração”, e que muitas vezes era feita uma súmula dos mesmos por Miguel Moreira, à data diretor financeiro (CFO) dos encarnados e também arguido no processo.

“Grande parte desses contratos passava pelo Miguel Moreira, ele tinha autonomia, o Luís Filipe Vieira [presidente do clube à data dos factos] não tinha conhecimentos de tecnologia informática (IT)”, afirmou Rui Costa, que garantiu “nunca ter tido conhecimento da circulação de grandes quantidades de dinheiro vivo” no clube.

Vieira: “não se vai provar nada”

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

O ex-presidente do SL Benfica, Luís Filipe Vieira, à chegada para o início do julgamento do processo “Saco Azul”

À chegada ao tribunal, Luís Filipe Vieira recusou comentar detalhadamente o processo, limitando-se a afirmar que “não se vai provar nada”. Nega a existência de qualquer “saco azul” ou irregularidade financeira no clube encarnado. Insistiu que “tinha de ir almoçar” porque estava com fome.

Ao ver Rui Costa ser dispensado do tribunal para acompanhar o plantel benfiquista na visita ao Tirsense para a Taça de Portugal, o ex-presidente disse: ele “tem que ir ganhar”.

QuestãoFlexível “nunca reuniu com Vieira”

Na sessão da tarde foram ouvidas, durante mais de duas horas, as declarações de José Bernardes da QuestãoFlexível durante a fase de instrução, sendo que, depois, perante o coletivo, o arguido respondeu a várias questões, mas não quis falar sobre as transferências de dinheiro do Benfica para a empresa.

Bernardes admitiu que, “relativamente a contratos, falava sempre com Miguel Moreira”, e garantiu que nunca esteve com Luís Filipe Vieira, que liderou o clube entre 2003 e 2021.

O arguido explicou detalhadamente a cedência de posições em duas empresas relativamente a serviços prestados ao Benfica, bem como a criação da empresa QuestãoFlexível Lda, criada por ele e pela mulher e que tinha o Benfica como único cliente.

José Bernardes continuará a ser ouvido na próxima sessão, marcada para 8 de maio, na qual falará também o arguido Luís Filipe Vieira.

O que está em causa?

O Ministério Público acusa várias figuras ligadas ao clube, incluindo o antigo presidente Luís Filipe Vieira, os ex-administradores Domingos Soares de Oliveira e Miguel Moreira, bem como as sociedades Benfica SAD e Benfica Estádio.

No processo está em causa um alegado esquema de pagamentos fictícios a uma empresa de informática externa ao grupo Benfica, a Questãoflexível, num valor entre 1,8 milhões de euros e 2,2 milhões de euros, supostamente por serviços de consultoria informática que, segundo a acusação, nunca foram prestados.

De acordo com a acusação, confirmada em junho do ano passado por um juiz de instrução, o ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira é suspeito de três crimes de fraude fiscal qualificada e 19 de falsificação de documento, assim como Domingos Soares de Oliveira, antigo administrador – que está fora do país e só marcará presença em tribunal em julho – e o ex-diretor financeiro do clube Miguel Moreira.

Os mesmos crimes são também imputados em coautoria com a QuestãoFlexível: José Bernardes vai responder também pelo crime de branqueamento de capitais.

Num processo no qual são também arguidos Paulo Silva e José Raposo, a Benfica SAD está acusada de dois crimes de fraude fiscal qualificada e a Benfica Estádio de um crime de fraude fiscal e 19 de falsificação de documento.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Nessa fotografia, não tem ele um smartphone na mão? Como pode alegar não ter conhecimentos de IT? Se então o outro nem lia, então é incompetente para a função. Logo responsável pelo que assinou, tivesse lido.

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