Benfica 2-2 Ajax | Segunda parte de grande nível faz sonhar

José Sena Goulão / Lusa

O Benfica e o Ajax proporcionaram uma noite de Champions condizente com os pergaminhos da prova e da História dos dois emblemas.

Os neerlandeses foram bem melhores na primeira parte desta primeira mão dos oitavos-de-final, altura em que marcaram três golos (um na própria), mas no segundo tempo, a equipa portuguesa corrigiu processos defensivos, teve mais bola, empatou e não espantaria se tivesse conseguido a reviravolta.

Tal não aconteceu, mas como os golos fora já não têm o peso que tinham antes, é caso para dizer que está tudo em aberto para a segunda mão em Amesterdão. Haller (autogolo), e Yaremchuk fizeram os golos benfiquistas, Tadic e… (novamente) Haller marcaram para os “lanceiros”.

Como se previa, o Benfica sentiu muitas dificuldades na primeira parte ante um adversário que tem feito uma grande época na prova.

A diferença no futebol apresentado pelas duas equipas era enorme, não nas estatísticas finais, mas nas ideias de jogo.

Ao futebol de arrancada, lances ofensivos construídos à pressa e em esforço por parte dos “encarnados”, o Ajax contrapunha com uma construção de cabeça levantada, tranquila, com jogadores a ocuparem inteligentemente os espaços vazios e a aplicarem movimentos de ruptura claramente trabalhados.

Todos sabiam onde iria surgir um companheiro de equipa, em contradição com o futebol benfiquista, em que as decisões eram tomadas à pressa e no momento, conforme o que se proporcionasse.

Dusan Tadic (18′) voltou a repetir a gracinha de 2018 e marcou na Luz, abrindo o activo quase sem marcação na área.

O Benfica empatou com um autogolo de Haller (25′) após cruzamento do “filho dos lanceiros”, Jan Vertonghen.

Haller, melhor marcador da Champions, fez o 2-1, numa recarga a defesa incompleta de Odysseas Vlachodimos.

O melhor em campo ao intervalo era Tadic. O sérvio registava um GoalPoint Rating de 6.5.

A “águia” surgiu transfigurada do intervalo. O Ajax até tentou ter mais bola (e conseguiu), para a esconder do Benfica e controlar o jogo, mas os portugueses passaram a criar bem mais perigo e a limitar mais as transições contrárias.

A entrada de Yaremchuk, para o lugar de Everton, mudou o cariz do jogo, com o Benfica a ter mais presença na área.

E aos 72 minutos surgiu o empate. Gonçalo Ramos rematou forte de fora da área, Pasveer defender para o alto, e o ucraniano do Benfica surgiu de trás a cabecear para o 2-2.

Os “encarnados” conseguiram, após o intervalo, acompanhar muito melhor os movimentos contrários, cortaram linhas de passe e estancaram os problemas defensivos do primeiro tempo, o que ajudou a ter mais bola e a criar muito mais perigo.

Uma etapa complementar que deu uma imagem bem diferente do Benfica dos últimos tempos a nível nacional – apesar de os homens de Amesterdão terem terminado em cima dos benfiquistas. Tudo em aberto para a segunda mão.

Melhor em Campo

Jurriën Timber foi verdadeiramente fundamental no jogo do Ajax, em especial na segunda parte, altura em que os neerlandeses tiveram de aguentar a intensa pressão do Benfica em determinados períodos.

O jovem central, de apenas 20 anos, foi o melhor em campo, com um GoalPoint Rating de 6.7, com o máximo de passes certos no jogo (75, ou seja, 95% de eficácia), de acções com bola (94), mas também três bloqueios de remate e, mais importante, dois cortes decisivos que impediram a reviravolta “encarnada”.

Destaques do Benfica

Rafa Silva 6.5 – A melhor exibição de Rafa sob o comando de Nélson Veríssimo, arriscamos a dizer. O extremo benfiquista utilizou muito bem a sua grande velocidade, sempre na procura da profundidade e até dos espaços vazios no eixo central, terminando com o máximo (a par de Grimaldo) de passes para finalização (6), um deles para ocasião flagrante, completou duas de três tentativas de drible e fez duas conduções super aproximativas. Faltou-lhe uma acção para golo.

Roman Yaremchuk 6.2 – O ucraniano jogou a última meia-hora e foi fundamental, não só pelo golo que marcou e deu o empate, como pelas movimentações e capacidade física que deu ao Benfica no último terço. O seu tento foi de grande sentido de oportunidade e no tempo que esteve em campo somou dois remates, ambos enquadrados.

Odysseas Vlachodimos 6.1 – No segundo golo do Ajax deu a ideia de que poderia ter feito melhor, mas a verdade é que o grego terminou com sete defesas (três a remates na sua área), sendo que apenas Philipp Köhn, do Salzburg, fez mais nesta primeira mão (8).

Álex Grimaldo 5.9 – Defensivamente o espanhol viveu momentos complicados, em especial na primeira parte, pois o Ajax atacou quase sempre pelo seu flanco, e logo com Antony e Mazraoui – registou mesmo três perdas de posse no primeiro terço. Compensou no ataque, com seis passes para finalização e 23 passes certos em 25.

Nicolás Otamendi 5.9 – Na primeira parte andou um pouco “aos papéis”, mas na segunda, com o devido apoio defensivo do meio-campo, o argentino cresceu e terminou com dois passes super aproximativos e sete acções defensivas, das quais cinco foram alívios.

Jan Vertonghen 5.4 – Muitas dificuldades para o belga, curiosamente formado no Ajax. Vertonghen tardou a reagir no lance do 2-1 e terminou com 13 passes falhados, seis deles de risco, ambos máximos negativos do encontro. Curiosamente somou um dos valores mais altos de acções com bola na área contrária, cinco, uma delas provocando o autogolo de Haller.

Adel Taarabt 5.4 – O marroquino voltou a ser titular, saindo perto do fim com queixas físicas. Não fez um jogo brilhante, longe disso, mas destacou-se pela intensidade que colocou em cada lance e na qualidade do passe.

Gilberto 5.3 – O brasileiro também saiu tocado perto do fim e, diga-se, este foi um jogo de esforço. Gilberto não teve sequer hipóteses de registar contributos ofensivos relevantes, com destaque para três intercepções e sete recuperações de posse.

Gonçalo Ramos 5.0 – Jogo de muita entrega do jovem avançado, que tanto jogou como homem mais adiantado, como recuou para ser uma espécie de segundo ponta-de-lança. Foi o jogador mais rematador da partida, com sete disparos, e o que mais acções com bola registou na grande área contrária (7). Espectacular o remate que redundou no 2-2 de Yaremchuk.

Darwin Núñez 4.8 – Por várias vezes conseguiu fugir e aplicar velocidade, mas raramente passou a bola na altura certa, perdendo-se alguns lances promissores. Destaque para três dribles completos em cinco, uma condução super aproximativa e quatro duelos aéreos ofensivos ganhos em cinco. Falhou uma flagrante, que lhe afecta a nota.

Julian Weigl 4.7 – Jogo pobre em termos defensivos do alemão, que fez apenas um alívio e um bloqueio de passe – algo pouco comum num médio-defensivo.

Destaques do Ajax

Noussair Mazraoui 6.5 – A segunda melhor nota da noite pertenceu ao lateral marroquino, que também saiu tocado perto do fim. Mazraoui foi uma dor de cabeça para Grimaldo (e Everton), terminando com uma assistência, dois remates enquadrados, seis passes ofensivos valiosos e dois super aproximativos, e ainda registou três desarmes e dois bloqueios de remate. Falhou uma ocasião flagrante.

Dusan Tadic 6.1 – Provavelmente o jogador de maior classe neste Ajax, fez o 1-0 com um remate de categoria e fez seis passes super aproximativos.

Antony 5.6 – A nota final acaba por reflectir o apagamento na segunda parte, mas o extremo brasileiro é um craque, tendo feito a cabeça em água a Grimaldo no primeiro tempo. Terminou com quatro remates, todos enquadrados, sete passes ofensivos valiosos, dois dribles completos em três, além de incríveis 12 recuperações (de longe o máximo), três desarmes e quatro acções defensivas no meio-campo contrário.

Resumo

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