A Biblioteca e Museu Morgan está a organizar uma exposição sobre a sua primeira diretora. Mas quem foi esta mulher e qual era o seu grande segredo?
Belle da Costa Greene foi nomeada diretora e bibliotecária inaugural da Biblioteca Morgan, em Nova Iorque, no início do século passado, pelo empresário J. Pierpont Morgan, na época fundador e diretor da Biblioteca e Museu Morgan, que celebra agora 100 anos de existência.
Durante o seu mandato, Greene colecionou partes da Bíblia dos Cruzados, obras medievais e outros manuscritos históricos importantes. Ainda assim, não poderia tê-lo feito se não fosse capaz de esconder a sua verdadeira identidade.
Pelo menos, assim acreditava a sua mãe, Genevieve Greener (sim, Greener e não Greene), que desde cedo fez Belle e os seus irmãos fazerem-se passar por crianças brancas (e daí ter “feito cair” a última letra do apelido).
O pai de Belle fora o primeiro homem negro formado pela Faculdade de Harvard, na década de 1890, período de grande segregação racial nos Estados Unidos. No início do século XX, os então chamados Greener viviam na alta sociedade negra de Washington, D.C.
Após ter-se separado do marido, Genevieve decidiu que os seus filhos começariam a fazer-se passar por brancos, por forma a terem mais possibilidades de ascensão social.
E assim aconteceu. Segundo Erica Ciallela, a curadora da exposição “O legado de uma bibliotecária”, que estará no museu até 4 de maio de 2025 e conta a história desta misteriosa figura da história de Nova Iorque, Greene “tinha muito orgulho em tudo o que estava a construir aqui e criou uma família com esta equipa”.
Acrescenta: “Por isso, penso que o seu trabalho a fez avançar e manteve os olhos postos no seguinte: ‘Posso estar a esconder esta parte de mim, mas o mundo pode ver todas as outras coisas que estou a realizar’.”
Não existem sequer registos relativos aos pensamentos de Greene sobre fazer-se passar por uma mulher de outra raça: antes de morrer, em 1950, queimou os 10 volumes de diários que foi escrevendo ao longo de toda a sua vida.