O objectivo é prevenir o infanticídio, já que a agressividade dos pais nos animais é dirigida contra os bebés, enquanto que a das mães geralmente surge em defesa dos filhos.
Os bebés recém-nascidos chegam ao mundo já com uma estratégia para sobreviver: emitir um cheiro que torna as mães mais agressivas e leais aos seus filhos e que, por sua vez, deixa os pais enternecidos e mais gentis.
De acordo com um estudo publicado este mês na Science Advances, a inspiração de hexadecanal — um químico que a pele humana emite às vezes, especialmente na cabeça dos recém-nascidos — tem um efeito diferente em homens e mulheres.
Os cientistas ficaram chocados com a experiência e afirmam que este estudo é um dos primeiros a provar que há uma ligação directa entre uma molécula detectada pelo olfacto e o comportamento humano, depois de um estudo de 2015 ter concluído que os apertos de mão podem ter surgido como uma forma socialmente aceitável de nos cheirarmos uns aos outros.
A equipa do Instituto de Ciência Weizmann, em Israel pediu a 127 voluntários que cheirassem um óleo com hexadecanal, que não tem odor, e a outros que cheirassem um óleo placebo.
Depois disto, a agressividade dos participantes foi medida ao jogarem jogos de computador que eram propositadamente irritantes. Durante o jogo principal, os voluntários achavam que estavam a jogar contra outra pessoa quando o oponente era, na verdade, um computador.
O adversário tinha um comportamento injusto e anti-desportivista. Em resposta, os participantes podiam responder ao gerarem sons com um botão, controlando o volume desses sons, sendo que alguns eram altos o suficiente para magoarem a audição humana.
Os resultados mostraram que homens que cheiraram a substância emitiram sons mais baixos do aqueles que não a inspiraram. O efeito foi o oposto nas mulheres.
Alguns dos voluntários também foram sujeitos a exames ao cérebro, que concluíram que apesar de ambos os sexos não se aperceberem do cheiro do hexadecanal, a reacção neurológica mostrou que o lado esquerdo do cérebro emitia uma resposta que depois enviava sinais à amígdala, que controla a agressividade nos humanos.
“Ficámos muito surpreendidos“, afirmou Eva Mishor, autora principal do estudo, ao The Times of Israel. “A nossa hipótese era de que fosse uma pista social que reduzisse a agressividade, mas nós não esperávamos que houvesse uma reacção diferente entre homens e mulheres”.
Mesmo com a surpresa inicial, a equipa aponta que os resultados são lógicos, já que a agressividade masculina no reino animal é muitas vezes dirigida contra as crias, o que as põe em perigo de infanticídio. Já a agressividade feminina costuma servir para proteger os filhotes.
“Este mecanismo de cheiro que estudamos pode ser na verdade a forma de um bebé, que tem a comunicação limitada, para aumentar a probabilidade de sobrevivência ao ter o efeito requerido de ambos os pais”, remata.