O coração de África está a bater — e vai criar um novo oceano

Movimentações de três placas tectónicas junto à fenda de Afar estão a causar pulsações rítmicas que vão dar origem a uma nova bacia oceânica no leste de África. Mas tão cedo não haverá novas praias paradisíacas no continente africano — que vai demorar alguns milhões de anos a dividir-se.

Em estudos anteriores, os geólogos já tinham determinado que, em apenas 5 milhões de anos, o continente africano vai literalmente dividir-se em dois.

De acordo com estas previsões, a Somália, metade da Etiópia, o Quénia, a Tanzânia e parte de Moçambique irão separar-se, dando origem a um novo oceano.

Num novo estudo, os cientistas concluíram agora que pulsações rítmicas nas profundezas do leste de África, longe do mar, estão literalmente a rasgar o continente africano — e embora os efeitos não cheguem à superfície por algum tempo, o resultado final será uma bacia oceânica completamente nova por cima.

A equipa internacional de investigadores chegou a esta conclusão após analisar mais de 130 amostras de vulcões jovens localizados numa região geológica rara abaixo da Etiópia.

Os resultados do seu estudo foram apresentados num artigo publicado esta quarta-feira na revista Nature Geoscience.

A zona de fenda de Afar, no norte da Etiópia, é um dos poucos exemplos na Terra onde três fendas tectónicas convergem. Os cientistas teorizaram antes que esta junção das fendas Principal Etíope, do Mar Vermelho e do Golfo de Áden continha uma corrente ascendente ativa e quente de manto fundido.

Se for assim, esta área — frequentemente conhecida como pluma — mostraria efeitos claros nas placas tectónicas acima dela.

As zonas de fenda tipicamente esticam e puxam as placas tectónicas até que eventualmente se rompem. Mas como é que a pluma abaixo de Afar está estruturada, como é que se comporta e como está a influenciar a crosta acima dela permaneciam mistérios.

Para os investigar, uma equipa liderada pela geocientista Emma Watts, da Universidade de Swansea, viajou para a Etiópia, onde recolheu mais de 130 amostras de rocha tanto da região de Afar como da Fenda Principal Etíope.

Os investigadores combinaram então a análise das amostras com dados existentes e modelação estatística avançada para explorar a dinâmica da crosta e do manto da área. Como suspeitavam, a pluma do manto de Afar não é uniforme nem estática: ela pulsa.

Pulsa, e estas pulsações carregam assinaturas químicas distintas“, diz Watts num comunicado da Universidade de Southgampton. “Estas pulsações ascendentes de manto parcialmente fundido são canalizadas pelas placas em abertura acima. Isso é importante para como pensamos sobre a interação entre o interior da Terra e a sua superfície.”

Tom Gernon, professor de ciências da Terra da Universidade de Southampton e coautor do estudo, comparou este padrão químico a um batimento cardíaco.

“Estas pulsações parecem comportar-se de forma diferente dependendo da espessura da placa e da velocidade com que se está a separar”, acrescentou. “Em fendas de expansão mais rápida como o Mar Vermelho, as pulsações viajam de forma mais eficiente e regular, como um pulso através de uma artéria estreita.”

A equipa também confirmou que as correntes ascendentes do manto profundo estão intimamente ligadas ao movimento das placas tectónicas.

De acordo com o cientista da Terra e coautor do estudo Derek Keir, estas descobertas têm “implicações profundas” para os geólogos poderem compreender melhor o vulcanismo de superfície, terramotos e ruturas continentais.

Assim, a Terra vai mesmo ver nascer uma nova bacia oceânica, mas os cientistas não conseguem neste momento determinar, com exatidão, quando acontecerá — apennas que não precisamos de nos preocupar muito com isso.

“Em termos de escalas temporais, é difícil dar-lhe um número exato, dado que as taxas de abertura podem mudar, por isso, para ser honesta, não podemos saber com certeza”, explica Watts à Popular Science.

“Uma coisa que sabemos é que será da ordem de milhões de anos“, detalha a geocientista. “Esperamos que o nosso próximo trabalho se aproxime de algumas estimativas probabilística”.

ZAP //

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