Barco romano naufragado há 1700 anos estava cheio de molho de peixe quando afundou

Jose Antonio Moya / ARQUEOMALLORNAUTA Project

Uma nova pesquisa fez uma análise a várias ânforas encontradas no barco e descobriu vestígios de um  tipo de molho de peixe feito principalmente de anchovas e sardinhas.

A presença de inscrições pintadas, conhecidas como “tituli picti”, nas ânforas sugere uma prática comum de rotulagem de diferentes produtos

Um estudo recente publicado na revista Archaeological and Anthropological Sciences lança luz sobre um naufrágio da era romana descoberto ao largo da costa de Maiorca. O naufrágio, conhecido como o naufrágio de Ses Fontanelles, afundou-se há cerca de 1700 anos, transportando uma carga de molho de peixe.

Descoberto após uma tempestade em 2019 perto de Les Meravelles, uma cidade turística a sudeste de Palma, a capital de Maiorca, o naufrágio tem sido objeto de intriga arqueológica. Estudos anteriores sugeriam que o navio era originário ou próximo do porto espanhol de Cartagena, conhecido como “Carthago Spartania” durante a época romana, e que se afundou no século IV devido a circunstâncias desconhecidas, recorda o Live Science.

O último estudo apresenta uma análise detalhada dos destroços, revelando que muitos dos 300 jarros de cerâmica selados, ou ânforas, da carga do navio continham molho de peixe feito de anchovas, conhecido como “liquamen”.

Miguel Ángel Cau Ontiveros, autor principal do estudo e diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Barcelona, sublinhou a raridade de encontrar um naufrágio tão bem preservado deste período. “É o único naufrágio romano tardio que conhecemos até agora na área de Cartago Spartania e um dos poucos do século IV no Mediterrâneo”, afirma.

Apesar dos desafios colocados pelas águas pouco profundas e pelas ondas perto da costa, a notável preservação do naufrágio sugere que foi rapidamente enterrado por areia e sedimentos após o afundamento.

Juntamente com as ânforas, os arqueólogos descobriram vários objectos orgânicos, incluindo cordas, sapatos, um berbequim de madeira e uma esteira protetora feita de rebentos de videira e erva. O estudo utilizou cromatografia gasosa e outros métodos analíticos para identificar resíduos nas ânforas, fornecendo informações sobre o comércio mediterrânico no século IV.

A presença de inscrições pintadas, conhecidas como “tituli picti”, nas ânforas sugere uma prática comum de rotulagem de diferentes produtos. De forma notável, algumas ânforas de óleo apresentavam selos com um monograma cristão, sugerindo a sua potencial associação com autoridades eclesiásticas.

Uma descoberta significativa foi uma moeda encontrada na ligação de madeira entre o mastro e o casco do navio, que remonta ao reinado do imperador romano Constantino, o Grande, fixando a data mais antiga possível do navio em 320 d.C. Este facto está de acordo com as provas arqueológicas, que sugerem que o navio se afundou por volta de meados do século IV.

A análise da carga revelou restos de espinhas de peixe em algumas ânforas, indicando a presença de “liquaminis flos”, um tipo de molho de peixe feito principalmente de anchovas, com vestígios de sardinhas. Esta descoberta oferece informações valiosas sobre a preferência dos antigos romanos pelo molho de peixe e as suas práticas comerciais marítimas.

ZAP //

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