Uma estirpe da bactéria Delftia tsuruhatensis, denominada Tres Cantos 1 (TC1), inibe os parasitas da malária P. falciparum nos mosquitos.
Cientistas descobriram uma bactéria natural (Delftia tsuruhatensis Tres Cantos 1 – TC1) que pode ser essencial na luta contra a malária.
O estudo publicado na revista Science sugere que essa bactéria suprime a transmissão da malária por mosquitos anofelinos.
A bactéria pode reduzir significativamente a carga do parasita da malária, tanto no intestino médio do mosquito, como nas glândulas salivares.
Assim se vê o potencial da TC1 para inibir a transmissão do parasita aos seres humanos através do mosquito, lê-se em informação enviada ao ZAP pela biofarmacêutica GSK – que teve cientistas nesta investigação.
O estudo envolveu dados de estudos preliminares de semi-campo realizados numa instalação ‘MosquitoSphere’ no Burkina Faso; isso sugere a possibilidade de os resultados laboratoriais serem transpostos com êxito para o terreno, com vista ao controlo da malária.
Os cientistas observaram que os mosquitos de uma colónia de An. stephensi no seu insectário já não eram capazes de manter a infeção por P. falciparum – o tipo de malária mais prevalente e fatal em África, bem como noutras partes do mundo.
As experiências confirmaram que uma estirpe específica de Delftia tsuruhatensis, denominada TC1, era responsável pela perda de capacidade infeciosa.
A TC1 segrega quantidades muito pequenas de uma molécula, harmane, que inibe as fases iniciais do desenvolvimento do P. falciparum no intestino médio do mosquito – os mosquitos expostos à bactéria TC1 ou a concentrações muito baixas de harmane apresentaram uma redução significativa na forma do parasita Plasmodium, que é transmitido aos seres humanos pela picada de um mosquito.
Uma vez no intestino médio, a bactéria povoa de forma estável o intestino do mosquito e a inibição do P. falciparum dura mais de 16 dias e, possivelmente, durante todo o tempo de vida útil do mosquito.
A Delftia tsuruhatensis é uma bactéria de origem natural, que já se encontra amplamente distribuída em diferentes ecossistemas (água doce e marinha, solo e plantas), o que sugere um potencial de disseminação segura no ambiente. Os mosquitos não libertam a bactéria com a sua saliva quando se alimentam, o que sugere que não é transmitida aos seres humanos.
O TC1 foi eficaz contra os mosquitos An. stephensi e An. gambiae, que são os principais vetores da malária na região indo-iraniana e em África.
O TC1 também inibiu dois tipos de parasitas da malária: P. falciparum – o tipo de malária mais prevalente em África – e P. berghei – o parasita da malária dos roedores.
São resultados que sugerem um potencial de inibição do desenvolvimento de todos os parasitas da malária que afetam os seres humanos (P. vivax, P. ovale e P. malariae, para além do P. falciparum).
Existem várias características do TC1 que sugerem um baixo potencial de desenvolvimento de resistência por parte dos mosquitos ou do parasita da malária.
Não tem repercussões na aptidão ou na capacidade reprodutiva do mosquito, evitando a seleção de mosquitos resistentes.
Ao visar o parasita no mosquito e não nos seres humanos, o número de parasitas é muito menor, pelo que as hipóteses de o parasita desenvolver resistência são muito reduzidas.
Os responsáveis pela investigação acreditam nesta “abordagem inteiramente nova para o controlo da malária” e que um dia será possível “erradicar esta doença terrível”, que matou mais de 600 mil pessoas só em 2021 – a maioria das quais eram crianças com menos de 5 anos que viviam em África.