Cientista português descobre bactéria da boca que “derrete” cancros

O investigador português Miguel Reis Ferreira descobriu que uma bactéria comum da boca, a fusobacterium, pode fazer com que certos cancros “derretam”.

A descoberta pode revolucionar o tratamento do cancro, em especial no caso dos cancros da cabeça e do pescoço.

A fusobacterium, que se encontra tipicamente na boca, tem sido associada a resultados significativamente melhores em doentes com estes tipos de cancros.

No decorrer de um novo estudo, cujos resultados foram publicados em julho na Cancer Communications, uma equipa de investigadores do King’s College London, liderada pelo português Miguel Reis Ferreira, ficou surpreendida ao descobrir a capacidade desta bactéria para matar células cancerígenas em estudos de laboratório.

“Descobrimos que quando estas bactérias estão presentes nos cancros da cabeça e do pescoço, os doentes têm resultados muito melhores. Além disso, em culturas de células, esta bactéria é capaz de matar células cancerígenas” disse o cientista português ao The Guardian.

“Estamos atualmente a explorar o mecanismo por detrás desta proeza, que será o foco de um futuro artigo”, acrescentou Reis Ferreira, corresponding author do artigo recentemente publicado.

A investigação envolveu a colocação de fusobactérias em placas de Petri com células cancerígenas e a observação dos efeitos ao longo de alguns dias. Notavelmente, as células cancerígenas desapareceram quase por completo.

Verificou-se uma redução de 70%-99% no número de células viáveis do cancro da cabeça e do pescoço após a exposição à fusobactéria.

A equipa descobriu também que doentes com fusobacterium nos seus tumores tinham um risco de morte 65% menor do que os que não tinham a bactéria. Isto sugere que a fusobacterium poderá desempenhar um papel crucial na melhoria dos resultados dos doentes com cancro da cabeça e do pescoço.

Reis Ferreira e a sua equipa esperavam inicialmente que a fusobacterium promovesse o crescimento do cancro ou a resistência ao tratamento, com base em investigações anteriores que a associavam à progressão do cancro do intestino.

No entanto, os seus resultados foram o oposto. “Ao fim de alguns dias, destrói completamente o cancro”, observou o português. “Se o colocarmos no cancro em quantidades muito baixas, ele começa a matá-lo muito rapidamente”.

“Os nossos resultados são notáveis e muito surpreendentes”, explica por seu turno ao The Guardian Anjali Chander, investigadora clínica sénior do King’s College London e primeira autora do estudo.

“Tivemos um momento eureka quando descobrimos que os nossos colegas internacionais também tinham encontrado dados que validavam a descoberta”, conclui a investigadora.

ZAP //

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