Há maior procura pelos transportes músicos mas, ao mesmo tempo, o número de carros nas auto-estradas atingiu novo máximo.
118 mil veículos por dia só na IC19, que liga Lisboa a Sintra. 96 mil veículos por dia só na VCI, que passa por Porto e Vila Nova de Gaia.
São os números actualizados das duas estradas (IC19 não é uma auto-estrada, oficialmente) mais movimentadas do país. São relativos aos primeiros nove meses de 2024.
Os dados do Instituto da Mobilidade e dos Transporte, citados no Jornal de Notícias, mostram que houve mais 5% de veículos a circular nas auto-estradas entre Janeiro e Setembro, comparando com o mesmo período de 2023.
A média nas auto-estradas é a mais alta desde 2009: foram praticamente 23 mil veículos por dia.
A tendência tem sido quase sempre de crescimento. Só não foi durante a troika e durante os períodos mais fortes da pandemia.
Agora volta a haver recordes, sobretudo nos acessos a Lisboa e Porto, apesar de estarmos numa fase em que há mais passageiros nos transportes públicos.
Mas, ao mesmo tempo, o número de carros nas auto-estradas atingiu novo máximo.
Como? Muito provavelmente porque o teletrabalho acabou para milhares de portugueses, ou totalmente, ou parcialmente. E porque a economia, o emprego e até o turismo estão a crescer.
Além disso, os transportes públicos não chegam a todo o lado, não servem para todos; ou, quando chegam ao destino pretendido, já vão sobrelotados e o trabalhador prefere viatura própria.
Voltando a números das auto-estradas, curiosamente a pioneira A1, entre Lisboa e Porto, nem é das que tem mais movimento: 43 mil veículos por dia.
As auto-estradas que têm menos carros por dia são: A13-1 (Condeixa-a-Nova a Almalaguês), A24 (Viseu a Chaves) e A15 (Santarém até Caldas da Rainha).
E onde está a admiração? Só para quem não conhece o Porto, no caso do meu comentário.
A VCI continua a ser a via privilegiada de acesso, uma vez que as restantes são poucas e desembocam no meio da confusão da cidade, mas também e principalmente para quem a atravessa. Mas isso não é preocupação de quem governa, pois continuam a cobrar-se portagens elevadas nas alternativas que circundam o Porto, levando a que se opte sempre pela via mais económica – a VCI.
Os transportes coletivos (não os públicos, porque táxi e TVDE acabam no mesmo) raramente são alternativa para quem se desloca para o Porto (e dentro do Porto também) essencialmente pelo tempo que demoram. Os horários raramente são cumpridos e a regra é que um trajeto de 20 ou 30 min em automóvel demora sempre 1:30 ou mais em transporte coletivo.
Onde está a tão propalada preocupação ambiental? Tornar o uso dos transportes coletivos atrativo não existe e facilidade de circulação também não (os percursos dentro das cidades são cada vez mais complicados e longos, sem justificação plausível).
A verdade é que a questão é muito complexa, uma vez que começa na organização dos territórios das zonas metropolitanas, passa pelo custo elevado da habitação dentro dos grandes centros e acaba nas necessidades de cumprimento (ou não!) dos horários de trabalho.
Para quando uma verdadeira e coerente política de transportes de pessoas e de mercadorias a pensar nas necessidades e recursos do país e das populações?
Se ao menos víssemos algum planeamento no sentido de se obter melhorias… mas estamos em Portugal!