/

Atrasos dos alunos podem chegar a sete meses. “Escolas de verão” podem ser solução

Rodrigo Antunes / Lusa

Estudos feitos no estrangeiro mostram que os atrasos na aprendizagem devido à pandemia podem ser de até sete meses. Grupo de especialistas propõe “escolas de verão” como solução.

Enquanto os alunos vão agora voltando gradualmente às escolas, os efeitos do ensino à distância já estão a ser sentidos e o atraso na aprendizagem pode chegar a ser de sete meses, sugere um grupo de economistas da Universidade Nova de Lisboa. Os estudantes mais pobres são os mais afetados pela pandemia na educação.

Em Inglaterra, por exemplo, as primeiras projeções apontavam para o aumento de 36% do fosso entre os alunos desfavorecidos e os seus colegas. Por sua vez, os alunos de seis a sete anos de idade tinham dois meses de atraso na aquisição de competências em comparação com os alunos de outros anos. No caso de crianças desfavorecidas, o atraso era de sete meses.

Nos Países Baixos, “verificou-se uma perda de conhecimentos equivalente a um quinto do ano letivo”, escreve o Público. A perda aumenta 60% nos casos de alunos cujos pais tenham níveis de educação baixos.

Nos Estados Unidos, os alunos do segundo e terceiro ano tinham uma capacidade de leitura 30% inferior às dos seus colegas de anos letivos anteriores.

Assim, para mitigar os efeitos da pandemia na educação dos jovens em Portugal, o grupo de economistas da Nova School of Business and Economics (Nova SBE) sugere que campos de férias e ATL, durante o verão, passem a incluir um período destinado a trabalhar os conhecimentos em atraso devido à pandemia.

Estas “escolas de verão” assentam “na infraestrutura já existente”, explica ao jornal Público a professora da Nova SBE, Susana Peralta.

Este programa destina-se a alunos inscritos no 1.º e 2.º ciclo no ensino público e teria a duração de quatro semanas. As tutorias seriam de uma hora por dia e seriam dadas por professores com profissionalização, como recém-licenciados ou jovens que estivessem ainda a concluir formações superiores.

As escolas de verão podem envolver “entre 251 mil e 331 mil alunos do 1.º e 2.º ciclo” o que, tendo em conta a estimativa de um custo de 166 euros por aluno, implica um investimento total de 42 a 55 milhões de euros.

Ainda assim, os especialistas mencionam um plano mais abrangente ao longo do ano letivo, em horário escolar e com duas sessões semanais, abrangendo alunos de todo o ensino básico nas disciplinas de Português e Matemática. O custo por aluno varia entre 422 e 704 euros, podendo o custo do programa variar entre 168 milhões e 639 milhões de euros por ano.

Nuno Crato: Alunos terão de aprender mais e mais depressa

O antigo ministro da Educação Nuno Crato considerou esta quinta-feira que, quando os alunos regressarem às escolas terão de aprender mais e mais depressa, para recuperar o tempo em que tiveram aulas à distância devido à pandemia da Covid-19.

“Temos de acelerar a aprendizagem destes jovens, porque eles estiveram muito tempo parados e temos de fazer todos os possíveis para que estes jovens, quando terminarem a sua escolaridade, estejam tão bem preparados como estariam se não tivesse sido a pandemia”, disse.

O antigo ministro participou esta quinta-feira numa sessão do ciclo de webinars promovido pela Federação Nacional da Educação, com o tema “Que caminhos para a escola na pós-pandemia”, em que se sublinhou a necessidade de encarar o regresso às aulas com uma “atitude positiva de progresso”.

No entender de Nuno Crato, a retoma do ensino presencial pode ser entendida de duas formas: a primeira, da qual discorda, com um foco único nos efeitos psicológicos e sociais do confinamento nos alunos, e a segunda, que defende, com o reforço e aceleração das aprendizagens. “[Os alunos] voltam para a escola para aprender mais. Não voltam para a escola para aprender a um ritmo normal, voltam para acelerarmos a sua aprendizagem”, afirmou.

O objetivo é recuperar o tempo perdido, já que, como começou por sublinhar, “nada substitui o ensino presencial“, apesar das inúmeras ferramentas disponíveis e que têm vindo a ser utilizadas para assegurar o ensino e a aprendizagem não para totalmente porque a escola está fechada.

E numa altura em que o ensino começa a desconfinar e, se a evolução da pandemia não interferir com os planos do Governo, a partir de 19 de abril todos os alunos estarão de volta e a prioridade deve ser avaliar. “Vai haver uma fase em que vamos ter de olhar para os estudantes e fazer uma avaliação sistemática… Uma avaliação que seja de diagnóstico, mas que também seja formativa”, explicou.

No entender do antigo governante, isso será um passo decisivo na recuperação e consolidação das aprendizagens e deverá ser feito em cada turma, em cada escola e, sobretudo, a nível nacional. “Não basta eu saber como está a minha turma. É necessário eu saber como está a minha turma em relação às outras, qual é a situação na minha escola e o que se passa no país”, explicou.

Nuno Crato aproveitou para deixar uma crítica ao seu sucessor e ao atual Governo, considerando que “neste momento estamos a assistir a uma desvalorização da avaliação”, através do cancelamento das provas de aferição e do 9.º ano.

Apesar de ter decidido cancelar as provas de aferição – realizadas anualmente pelos alunos dos 2.º, 5.º e 8.º anos – assim como as provas finais de 3.º ciclo, dirigidas aos alunos do 9.º ano, o Ministério da Educação vai voltar a realizar testes de diagnóstico para avaliar os efeitos do ensino à distância nas aprendizagens dos alunos, à semelhança daqueles realizados em janeiro em mais de 1.400 escolas.

ZAP // Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.