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Ativistas alemãs fazem-se passar por empresa de distribuição de panfletos e enganam partido da extrema-direita

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John MACDOUGALL / AFP

Carrinha do partido Alternative for Germany (AfD) durante a campanha para as eleições de 26 de setembro, na cidade de Schwerin, no norte da Alemanha

Identidade das autoras da partida — ou crime — só foi conhecida esta semana. Partido estima que mais de um milhão de panfletos tenha sido desperdiçado, mas ativistas aponta, para 5 milhões, qualquer coisa como 72 toneladas de papel.

Na antecâmara das eleições alemãs do último domingo, um grupo de ativistas criou um website — com o aspeto mais profissional possível — a publicitar os seus serviços de entregas de panfletos. O objetivo? Convencer a AfD, partido da extrema-direita, a comprar os seus serviços e, em vez de proceder à efetiva distribuição dos panfletos, devolvê-los ao partido poucos dias antes da eleição. À partida, pode parecer um plano um tanto rebuscado, mas resultou mesmo e os ditos panfletos não chegaram às mãos dos eleitores antes das urnas abrirem.

Tal como noticia o The Washington Post, o website criado vendia os serviços da empresa como “confiável, pontual e barata“, o que terá sido o suficiente para convencer a AfD a entregar-lhe a distribuição de pelo menos um milhão de panfletos — as ativistas, que se opõem às políticas do partido, falam em cinco milhões. Organizadas num grupo intitulado Centro para a Beleza Política (ou Center for Political Beauty, na versão em inglês), que é também um coletivo artístico, as ativistas posicionam-se contra a retórica contra refugiados ou tentativas de desvalorizar o holocausto, pontos que têm sido frequentemente evocados pela AfD — que nestas eleições também prometeu, caso fosse eleito, acabar com as medidas restritivas destinadas a conter a covid-19.

A partida, se assim lhe quisermos chamar, poderá custar ao grupo um processo judicial, já que a AfD promete não deixar impune o ato. Segundo o Público, que cita a agência noticiosa alemã Deutsche Presse-Agentur, o partido ainda não contabilizou o prejuízo decorrente do ato, mas já se sabe que uma queixa criminal deverá mesmo acontecer. “Na verdade, não se pode falar em ‘ação artística‘”, disse o porta-voz do partido.

Apesar de só esta semana a identidade dos autores da peripécia ter sido revelada, dias antes das eleições a AfD já teria comunicado parte do sucedido, uma “operação fraudulenta“, tal como classificou Tino Chrupalla, membro da direção do partido. “Os panfletos são agora inúteis para a nossa campanha. Este era precisamente o objetivo daqueles por trás desta operação. Eles estão a tentar prejudicar intencionalmente a AfD nas eleições”, disse o político.

Apesar do teor do ato — apreciado por uns, criticado por outros —, este parece ser do agrado de muitos alemães, já que ao longo das últimas horas, com recurso a uma iniciativa de crowdfunding, o grupo de ativistas conseguiu angariar 100 mil euros destinados a ajudar na reciclagem dos panfletos que permaneceram na sua posse mas também para defender a “liberdade artística“. Quem enviar donativos recebe isqueiros e t-shirts com o logótipo da empresa de distribuição de panfletos que afinal não existe — mas que o coletivo apelidou de “líder do mercado mundial na não-distribuição de panfletos nazis“.

Segundo explicou Thilda Rosenfeld, membro do grupo, ao The Washington Post, o seu objetivo era “manter o lixo fora da campanha eleitoral“, apesar de numa primeira fase estarem apenas a tentar implementar uma “ideia”. “Quando vimos que estava a resultar ficamos surpreendidas porque a AfD escolheu-nos várias vezes“, disse Rosenfeld.

Se a ação do grupo teve algum impacto nas eleições e respetivos resultados, nunca se saberá. A verdade é que nas últimas eleições federais, há quatro anos, a AfD conseguiu eleger pela primeira vez um deputado para o Parlamento alemão e afirmou-se como a terceira força política no país. No último domingo, caiu para sexta, com um resultado nacional manifestamente inferior ao de 2017, apesar de ter sido a mais votada nos estados federados da Turíngia e da Saxónia.

ARM //

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1 Comment

  1. Esta acção é muito grave. Espero que a lei preveja penas suficientemente severas para punir crimes desta natureza, pois seria absolutamente inaceitável que a sabotagem duma campanha eleitoral não fosse duramente castigada. Ainda por cima tendo todas as agravantes, desde a comprovada premeditação até à bazófia com o resultado da “proeza”!
    À ATENÇÃO DOS LEITORES DISTRAÍDOS: Saliento que, por ser irrelevante para o comentário, não refiro a natureza da ideologia do partido vitimado por esta acção. O comentário é igual seja qual for o partido vítima.

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