O supertelescópio ALMA, no Deserto do Atacama, observou pela primeira vez a formação de um anel de neve após a explosão de uma estrela.
O telescópio Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) fica a cinco mil metros de altitude e mostrou com detalhes o surgimento da camada de neve na estrela V883 Orionis.
Segundo os cientistas responsáveis pelo telescópio, o anel de neve formou-se dentro do chamado disco protoplanetário – material denso formado de gás e poeira que circunda estrelas novas e é responsável pela formação de planetas.
A descoberta, publicada esta quinta-feira na Nature, pode ajudar nas pesquisas sobre a formação e evolução dos planetas.
Os cientistas acreditam que essas explosões sejam um estágio da evolução da maioria dos sistemas planetários, ou seja, esse pode ser apenas o primeiro registo de um fenómeno relativamente comum.
Temperatura
O anel de neve marca o local do disco onde ocorreu uma grande queda de temperatura.
Com o aumento na luminosidade da estrela, a parte interna do disco aqueceu, empurrando esse anel gelado para uma distância dez vezes maior do que o normal para uma estrela em formação, o que teria possibilitado a observação do fenómeno pela primeira vez.
O resultado é que dentro dos discos há vapor de água, que na parte externa dos anéis congela sob a forma de neve.
Estas linhas são importantes porque definem a estrutura e arquitetura básica de sistemas planetários como o nosso. Elas normalmente estão localizadas a uma distância de três unidades astronómicas da estrela – cada unidade astronómica corresponde a 150 milhões de quilómetros.
No entanto, na observação feita pelo ALMA à V883 Orionis, o anel de neve está localizado a mais de 40 unidades astronómicas da estrela central, o que terá facilitado a identificação do fenómeno.
Como se trata de uma estrela em estágio de formação, as explosões provocam temperaturas altíssimas e muita luminosidade devido à transferência de material do disco para a parte interna do astro.
Esta temperatura alta teria aquecido o disco, o que afastou o anel de neve a uma distância maior do que o normal.
“Os registos do ALMA vieram como uma surpresa para nós. As nossas observações foram feitas para identificar fragmentos dos discos que poderiam ajudar-nos nas pesquisas sobre a formação dos planetas. Não vimos nada disso, mas em contrapartida encontramos o que pode ser um anel a 40 unidades astronómicas”, afirma Lucas Cieza, cientista responsável pelo estudo.
Na estrela solar – que deu origem ao nosso sistema Solar -, esse disco protoplanetário estava entre as órbitas de Marte e Júpiter.
Isto explica porque é que os planetas mais rochosos – como Mercúrio, Vénus, Terra e Marte – se formaram dentro do disco, enquanto os planetas mais gasosos – como Saturno, Urânio e Neptuno – se formaram do lado de fora.
ZAP / BBC