As “estrelas binárias” são muito comuns, mas o Sol permanece sozinho. Por agora. O companheiro perdido parece andar por aí, à espera de ser descoberto.
A estrela mais próxima do nosso Sol, Proxima Centauri, está a 4,2 anos-luz de distância, tão remota que mesmo a nave espacial mais rápida alguma vez construída demoraria mais de 7000 anos a lá chegar, explica a BBC.
É uma pena para o Sol, que está sozinho, sem nenhuma estrela a fazer-lhe companhia.
As “estrelas binárias” são bastante comuns, foram inclusivamente encontradas num lugar onde não se esperava que pudessem existir, porque se separariam devido à gravidade: perto do buraco negro supermaciço que situado no coração da Via Láctea. Se a maior parte das estrelas tem um irmão gémeo, poderá também o sol ter um?
Felizmente para nós, o nosso Sol não tem atualmente um amigo. Se tivesse, a atração gravitacional de um irmão solar poderia ter perturbado a órbita da Terra e dos outros planetas, condenando o planeta a oscilar entre calor e o frio extremos, de uma forma que poderia ser demasiado inóspita para a existência de vida.
O Sol formou-se há 4,6 mil milhões de anos, o que torna possível que, entretanto, o seu irmão se tenha perdido. Mas os astrónomos estão a tentar encontrá-lo.
Em 2017, Sarah Sadavoy, astrofísica da Queen’s University, no Canadá, sugeriu que todas as estrelas se poderiam formar em pares ou em sistemas multi-estelares.
“Obtêm-se pequenos picos de densidade dentro desses casulos, que podem colapsar e formar estrelas múltiplas, a que chamamos processo de fragmentação“, diz Sadavoy. “Se estiverem muito longe umas das outras, podem nunca interagir. Mas se estiverem muito mais próximas, a gravidade tem a possibilidade de as manter unidas“.
Em 2020, Amir Siraj, astrofísico da Universidade de Harvard, nos EUA, sugeriu que uma região de cometas gelados que rodeia o nosso Sistema Solar muito para além de Plutão, a Nuvem de Oort, poderia conter uma marca dessa estrela companheira.
“É difícil produzir tantos objetos nos confins da Nuvem de Oort como os que vemos sem uma estrela companheira”, argumenta o astrónomo.
Poderá ser possível confirmar se esta ideia é verdadeira com um novo telescópio no Chile, chamado Observatório Vera Rubin, que deverá ser ativado no próximo ano e realizar o estudo mais detalhado de sempre do céu nos próximos 10 anos.
“Quando o Vera Rubin entrar em funcionamento e começar a mapear a estrutura da Nuvem de Oort com mais pormenor, poderemos ver se há uma impressão digital clara da companheira binária”, diz o cientista americano Konstantin Batygin.
Outra possível assinatura do impacto de uma companheira binária é o facto de o nosso Sol estar ligeiramente inclinado, cerca de sete graus, em relação ao plano do Sistema Solar. Uma possível explicação para este facto é a atração gravitacional de outra estrela, que desequilibrou o Sol. “Penso que a explicação mais natural é a presença de uma estrela companheira numa fase inicial”, diz Batygin.
É, então, provável que qualquer irmão gémeo do sol esteja ainda “perdido no meio do mar de estrelas que vemos no céu noturno”, diz Sadavoy.
As estrelas nascidas na mesma região do espaço que o Sol podem ter uma composição semelhante, porque terão sido forjadas a partir da mesma mistura de gases e poeiras, o que as torna já numa espécie de gémeas.
Em 2018, os cientistas identificaram uma dessas estrelas “gémeas” do Sol, com um tamanho e uma composição química semelhantes, localizada a menos de 200 anos-luz de distância.
Quer exista quer não, até agora, o gémeo do Sol ainda não fez estragos — ainda cá estamos para procurá-lo. “Pode estar do outro lado da galáxia e nós não saberíamos”, diz Sadavoy. “Pode estar em qualquer lado.”