Quando os astronautas eventualmente aterrarem em Marte enfrentarão, entre outros, um grande desafio: estabelecer ligações de comunicação não só entre eles e com equipamentos em Marte, mas também com a Terra.
Dada a vasta distância entre os dois planetas, que pode variar de 55 milhões a 400 milhões de quilómetros — dependendo da posição dos planetas nas suas órbitas —, conexões Wi-Fi e de Internet baseadas na Terra não serão viáveis.
A enorme distância traz consigo atrasos significativos na comunicação — as mensagens demorariam entre quatro a 24 minutos para viajar num sentido à velocidade da luz,tornando a comunicação em tempo real, como chamadas de voz, impraticável.
Na liderança da investigação de tecnologias avançadas de comunicação, fundamentais para missões humanas futuras em Marte, estão os suspeitos do costume, a Agência Espacial Europeia (ESA) e a NASA, que trabalham, além da atualização de redes já existentes, com sistemas de comunicação por laser, que prometem taxas de transmissão de dados muito mais altas comparadas às ondas de rádio tradicionais usadas desde o início da exploração espacial.
“Estabelecer uma boa infraestrutura de comunicações é essencial para missões humanas a Marte”, diz Claire Parfitt, engenheira de sistemas com a Agência Espacial Europeia, ou ESA, baseada em Noordwijk, Países Baixos. “Neste momento, estamos nas fases iniciais de descobrir o que isso significa.”
Ainda há muitos desafios pela frente, como o atraso no tempo de comunicação e as conjunções solares, que podem bloquear sinais quando o sol se encontra entre a Terra e o Planeta Vermelho.
Atualmente, a comunicação com Marte depende de uma rede de orbitadores e rovers, incluindo o Perseverance da NASA, que comunica com a Terra através dos Canais de Marte, uma rede que envolve uma “dança bem coreografada” de transmissão de dados via antenas em Marte e na Terra.
Para futuras missões humanas, este sistema precisará de ser melhorado para suportar uma comunicação mais robusta e confiável.
A comunicação no solo em Marte poderia recorrer a tecnologias sem fio e frequências de rádio existentes, com o estabelecimento de infraestruturas como grandes antenas e retransmissores orbitais para comunicação com a Terra.
A ESA está a elaborar um projeto — Infraestrutura de Comunicação e Navegação de Marte (MARCONI) — que visa desenvolver cargas úteis de comunicação e navegação que poderiam melhorar a rede de retransmissão existente em Marte. Estas cargas facilitariam a transferência de dados e poderiam incorporar tecnologia laser para taxas de dados mais altas.
O conceito de uma Internet marciana, proposto pelos investigadores Tobias Pfandzelter e David Bermbach da Universidade de Berlim, envolve uma constelação de satélites em torno de Marte para proporcionar cobertura planetária, semelhante à Internet da Terra cujo acesso se dá através de redes 4G, 5G e Wi-Fi.
O sistema dependeria dos princípios de computação de borda, onde os dados são processados perto de sua fonte, permitindo o armazenamento local e o acesso a informações como filmes sem os atrasos associados ao streaming da Terra.
Considere-se um astronauta em Marte a tentar acompanhar um programa da Netflix. “Se fosse para transmitir da Terra, teria que esperar primeiro 10, 15 ou até 40 minutos”, diz Pfandzelter ao Science News.
A menos que haja uma grande revolução nas leis da física, as mensagens nunca poderão viajar mais rápido do que a velocidade da luz. “Não é um problema a ser resolvido. É apenas um problema”, confessa o investigador.