António Cotrim / Lusa

No meio de ex-autarcas, assessores ou empresários, há ainda vários nomes estreantes no Parlamento que já deram que falar, como Ricardo Lopes Reis, do Chega, que celebrou a morte de Odair Moniz, e a rapper Rapdiva, do PS, pelos seus comentários sobre o conflito na Ucrânia.
A nova legislatura da Assembleia da República vai arranca com 44 deputados estreantes: 20 mulheres e 24 homens que, pela primeira vez, assumem funções parlamentares.
O Chega lidera a lista com 15 novos deputados, seguido por PSD e PS com 12 cada, Iniciativa Liberal com três, Livre com um e o Juntos Pelo Povo (JPP) com um — este último também estreando-se como força política no Parlamento.
Chega chama ex-assessores e ex-familiares
O Chega destaca-se não apenas pelo número de estreantes, mas também pela variedade de perfis. Entre eles, está Cláudia Sofia Estêvão, enfermeira do Hospital de Setúbal, onde André Ventura realizou recentemente um cateterismo. A nova deputada não estava em serviço nesse dia, pois estava numa ação de campanha.
A bancada inclui ainda empresários, advogados e vários antigos assessores do partido, como Paulo Seco, Patrícia Almeida e Rui Miguel Cardoso. O empresário João Lopes Aleixo, formado em gestão pela Universidade Católica, praticante de rugby e experiente no mercado de imobiliário de luxo, também é um dos novos rostos.
Catarina Salgueiro, uma advogada e irmã do cavaleiro tauromáquico João Salgueiro, é outra estreante, assim como José Dotti, ex-cunhado de Catarina Salgueiro. O veterinário Francisco Lima foi eleito pelos Açores, o mesmo círculo que elegeu Miguel Arruda no ano passado, o ex-deputado que foi apanhado a furtar malas no aeroporto.
Um dos mais jovens é Ricardo Lopes Reis, de 25 anos, que gerou polémica com uma publicação na rede X (antigo Twitter) onde comentou a morte de Odair Moniz às mãos da PSP. “Menos um criminoso, menos um eleitor do Bloco”, escreveu.
PSD aposta em autarcas
No PSD, os novos deputados refletem uma aposta clara nas estruturas locais e jovens quadros partidários. Entre os mais notáveis estão três presidentes de Câmara: Fernando Eirão Queiroga (Boticas), Ricardo Aires (Vila de Rei) e João Esteves (Arcos de Valdevez). Rui Rocha Pereira, líder do PSD de Gaia, Sofia Fernandes, vereadora em Vila Nova de Famalicão e Bárbara Correia, deputada municipal em Loulé, são outros estreantes.
Também se juntam figuras com experiência técnica e governativa como Ana Marques Xavier, atual secretária de Estado da Defesa. O líder da Juventude Social-Democrata, João Pedro Louro, também entra para o Parlamento, aos 31 anos, assim como o especialista em relações internacionais Francisco Figueira.
PS recruta Rapdiva
A bancada socialista apresenta igualmente uma renovação significativa, apesar de ter perdido deputados. Um dos nomes mais mediáticos é o da rapper luso-angolana Eva Alexandre, conhecida como Rapdiva. Em 2022, publicou um vídeo onde rimou sobre a guerra na Ucrânia: “Eu sou africana, ‘tou-me a cagar para a guerra na Ucrânia. Esses gajos que se matem como nós nos matamos. Eles não se importam connosco, então, nós não nos importamos.”
Outros estreantes incluem Sofia Pereira, jovem líder das Juventudes Socialistas, e Fernando Araújo, ex-diretor do SNS e figura de destaque na área da saúde pelo seu trabalho de gestão no Hospital São João. Há ainda vários autarcas em fim de mandato, como Emanuel Câmara (Porto Moniz) e Rui Santos (Vila Real).
Outras estreias
A Iniciativa Liberal acolhe três novos deputados, entre eles fundadores do partido como Angélique Inês da Teresa, especialista em marketing, e Miguel Rangel. Jorge Miguel Teixeira, ex-candidato autárquico, também chega ao Parlamento.
Já no Livre, destaca-se Patrícia Serrano Gonçalves, professora universitária e doutorada em Física, que até agora exercia funções na vereação lisboeta.
Uma das grandes novidades desta legislatura é a entrada do Juntos Pelo Povo (JPP) no Parlamento. O deputado eleito, Filipe Sousa, autarca madeirense, será o único representante do partido, com a mobilidade aérea entre os temas prioritários da sua agenda.
Está montado o circo (outra vez). Vamos ver quanto tempo esta tenda se aguenta.
Crónica de um País sem Estadistas
A atual situação política em Portugal é motivo de séria preocupação. Assistimos, dia após dia, a uma erosão crescente da confiança nas instituições e nos seus representantes, numa paisagem dominada por uma classe política que perdeu substância, visão e, sobretudo, credibilidade.
Os verdadeiros estadistas — aqueles que encarnavam o sentido de dever público, que tinham uma visão para o país e que agiam com responsabilidade histórica — foram desaparecendo do palco político. Substituídos, em muitos casos, por figuras recrutadas à pressa, sem currículo digno, sem vocação, e por vezes sem qualquer preparação. A política tornou-se, para alguns, uma rampa de ascensão pessoal, um palco onde se encena a aparência da competência sem nunca a atingir verdadeiramente.
É cada vez mais comum ver candidatos escolhidos não pela sua formação, experiência ou mérito, mas por laços de amizade, favores de ocasião ou simplesmente para “fechar listas”. A banalização do acesso ao poder tornou-se um dos sintomas mais evidentes da crise institucional que vivemos. Pessoas sem qualquer preparação técnica, sem conhecimento do funcionamento do Estado e, em muitos casos, sem noção do impacto das suas decisões, ocupam hoje cargos de responsabilidade.
E os erros acumulam-se: decisões precipitadas, políticas públicas incoerentes, declarações irresponsáveis. Tudo isto alimenta a crescente desconfiança dos cidadãos, que assistem, incrédulos, ao espetáculo da incompetência instalada. Esta tendência, infelizmente, não é exclusiva do nosso país. Está a tornar-se uma moda global — e uma moda perigosa, que corrói por dentro os alicerces da democracia.
Como pode uma nação que permite este tipo de degeneração política aspirar a garantir um futuro digno às novas gerações? Como poderá ser este o modelo de liderança que guiará os destinos nacionais com responsabilidade e visão de longo prazo? A herança de tragédias políticas, de endividamentos graves e de promessas vazias está a deixar marcas profundas — marcas que dificilmente se apagarão se nada for feito.
É imperativo repensar o nosso sistema. Uma Revisão Constitucional séria e corajosa impõe-se, não como solução mágica, mas como medida fundamental para salvaguardar os mais altos cargos públicos da degradação atual. Impõe-se que se definam critérios exigentes para o exercício da função política, que se promova a entrada de cidadãos bem preparados, com provas dadas e verdadeira noção de serviço público.
Já vamos tarde. Mas ainda vamos a tempo — se houver vontade. A política precisa de voltar a ser espaço de excelência, de mérito e de compromisso com o bem comum. Só assim poderemos, enquanto nação, recuperar a confiança, traçar um novo rumo e construir um futuro à altura da nossa história.
Artur Orfão
São Bento , Casa da Democracia , repleta de “Boa Gente” , ao que se vê e ouve por parte dos nossos engravatados e Senhoras de decoração , que se Governam como querem e podem ! ….