As temperaturas dos escritórios são demasiado baixas — e isso afeta a produtividade dos trabalhadores

Mulheres são as mais afetadas por este fenómeno, mesmo nos meses de verão, de acordo com dados recolhidos nos Estados Unidos da América.

Uma das alterações mais flagrantes que a pandemia da covid-19 veio trazer tem que ver com o mercado de trabalho e, sobretudo, com os espaços em que os cidadãos exercem as suas profissões — nos casos em que é possível a atividade ser exercida remotamente. O teletrabalho é, sem sombra de dúvidas, uma das principais heranças da pandemia, com muitos trabalhadores a não estarem dispostos a abdicar do regime, evocando um melhor e mais positivo balanço dos compromissos profissionais com os pessoais.

No entanto, um novo estudo científico — publicado no Scientific Reports — apresenta um novo motivo para a resistência dos trabalhadores em regressar aos escritórios ou até desenvolver nestes espaços o seu trabalho de forma eficiência: nada mais nada menos do que as temperaturas baixas. Esta é uma queixa recorrente, sendo as mulheres as mais atingidas pelo frio no local de trabalho. Thomas Parkinson, autor do estudo, e a sua equipa ficaram indignados pela falta de justificações para este fenómeno, pelo que se dedicaram a analisar as duas maiores bases de dados dos Estados Unidos com informações sobre escritórios e espaços de trabalho.

Primeiramente, debruçaram-se sobre os resultados de inquéritos que pretendiam escrutinar quais os níveis de satisfação dos trabalhadores com as condições físicas do seu mercado de trabalho. Os investigadores tiveram em especial atenção dados obtidos através de perguntas relacionadas como as temperaturas, as quais tiveram 38,851 respostas de trabalhadores de 435 escritórios localizados em 168 cidades dos Estados Unidos.

De uma forma geral, 38% dos inquiridos mostrou-se insatisfeito com a temperatura no seus escritórios, dos quais dois terços eram mulheres. Questionados ainda sobre as temperaturas nas duas principais estações (verão e inverno), os participantes descreveram-nas como “demasiado frias” — 76% das mulheres reportaram as temperaturas baixas no inverno. Na mesma linha, 44% dos homens disseram que a temperatura nos seus escritórios melhorava o seu desempenho profissional, ao passo que apenas 31% das mulheres deu uma resposta no mesmo sentido. Mais: 42% das mulheres apontaram mesmo que as temperaturas prejudicavam o seu desempenho.

Posteriormente, os autores da investigação consideraram dados recolhidos no Twitter, ou seja, pesquisaram publicações com as expressões “a gelar” ou “frio” juntamente com “escritório“, “secretária” ou “edifício”. Isto levou-os a encontrar 16,791 tweets publicados entre 2010 e 2019, os quais, consideraram, descreviam as condições de trabalho dos escritórios norte-americanos.

Tal como nota o site Psy Post, apesar de 55% dos utilizadores do Twitter serem mulheres, 66% destas mensagens eram escritas por elas, o que vem reforçar a ideia de que as mulheres são mesmo as mais afetadas pelo frio. Ainda de acordo com as conclusões do estudo, os homens queixam-se mais do frio durante o período de inverno, ao passo que as mulheres o fazem mais no verão.

A equipa de investigadores também relacionara as mensagens com as temperaturas médias dos dias em que foram publicadas, de acordo com a localização referida. Uma das conclusões a que chegaram foi a de que à medida que as temperaturas aumentavam, também aumentava a probabilidade de as mensagens de desagrado terem sido escritas por mulheres. Simultaneamente, também descobriram que a população do sul contribua mais para os tweets, o que pode sugerir que estes territórios têm problemas com o arrefecimento excessivo devido às exigências de desumidificação.

Para os autores, o sobreaquecimento é um grande desperdício de energia que contribui para os gases com efeito de estufa, mas que também custa milhares de milhões de euros anualmente. Simultaneamente, também é um fenómeno que afeta negativamente a qualidade do trabalho das mulheres e da sua capacidade de se concentrarem.

Ao passo que ainda não é possível estabelecer com certezas o porquê de os escritórios serem mantidos a temperaturas excessivamente frias, os investigadores não têm dúvidas em admitir que os aquecedores e ares condicionados são programados para temperaturas mais baixas do que as necessárias para se alcançar níveis de conforto, sendo também ajustadas para favorecer as características e preferências dos homens.

ZAP //

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