Uma equipa de investigadores estudou o comportamento intrigante das orcas do Mar de Salish, no Canadá, que têm sido vistas a importunar e matar botos — sem os comer. Bullying no mundo animal ou brincadeiras que correm mal?
Num novo estudo, uma equipa de cientistas analisou 60 anos de dados sobre o comportamento das orcas — também chamadas de “baleias assassinas” — para tentar perceber por que motivo estão a matar botos sem razão aparente.
Os autores do estudo propõem três razões potenciais para este comportamento estranho: brincadeira social, prática de caça ou atitudes de “maternidade desastrada” — uma manifestação da tendência natural das orcas de cuidar de outros no seu grupo, com resultados imprevistos.
Os resultados do estudo foram publicados a semana passada na Marine Mammal Science.
Segundo Deborah Giles, corresponding author do estudo, estas orcas consomem principalmente salmão, e a sua ecologia e cultura diferem significativamente de outras orcas que comem mamíferos marinhos, o que pode explicar por que estas orcas não consomem outros animais marinhos como botos ou focas.
O estudo analisou 78 ocorrências entre 1962 e 2020 de orcas do mar de Salish a importunar botos — 28 das quais resultaram na morte dos botos.
Uma hipótese é que estes animais inteligentes e sociais se envolvem neste comportamento por brincadeira social.
Há casos de orcas avistadas a levar botos às costas ou a “cuidar” deles indivíduos, por vezes continuando a interagir mesmo depois do boto ter morrido — o que sugere que matar pode não ser o objetivo principal das orcas.
Outra possibilidade é que este comportamento sirva como prática de caça. As orcas poderiam ver os botos como alvos móveis para aprimorar as suas habilidades de caça, particularmente na caça ao salmão.
Segundo os autores do estudo, as fêmeas adultas, geralmente as caçadoras mais habilidosas, são menos propensas a envolver-se nesta atividade, enquanto as crias e orcas mais jovens estão mais vezes envolvidos nestes comportamentos.
Uma terceira teoria, denominada “comportamento de má maternidade“, sugere que as orcas possam estar a tentar (sem grande sucesso) cuidar de botos que entendam estar mais fracos ou doentes.
“Este comportamento é culturalmente enraizado e transmitido ao longo das gerações, tornando-o um exemplo marcante da sociedade das orcas”, explica Sarah Teman, co-autora do estudo.
Apesar destes dados, os investigadores reconhecem que as motivações exatas por trás deste comportamento podem nunca ser totalmente compreendidas.