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As mulheres têm mais nojo do que os homens — e isso pode valer-lhes mais anos de vida

Não é um estereótipo — as mulheres são mesmo mais enojadas do que os homens. Aliás, é um padrão em todos os primatas. Pode ser cómico, mas é, na verdade, uma mais-valia.

As fêmeas de lémures-rato cinzentos e macacos japoneses são mais propensas do que os machos a torcer o nariz a alimentos contaminados, enquanto as fêmeas de gorilas das planícies ocidentais e babuínos das oliveiras tendem a evitar outros animais com infeções cutâneas, conta a National Geographic.

E o mesmo se passa com os humanos.

Cécile Sarabian, ecologista cognitiva do Instituto de Estudos Avançados de Toulouse, em França diz ainda que os efeitos cumulativos do nojo feminino — ser mais seletivo quanto ao que comer e minimizar a exposição a infeções — podem ser uma das razões pelas quais as primatas fêmeas vivem mais tempo do que os machos.

Depois de estudar o comportamento de macacos japoneses, a investigadora percebeu que os machos apresentavam “menos precaução, e mesmo menos investigação, entre os machos”. Consequentemente, tinham menos probabilidades de serem infetadas com geohelmintos, um parasita intestinal transmitido através das fezes, do que os machos.

Outro exemplo: as fêmeas de babuíno da Tanzânia recusam-se a acasalar com machos infetados com treponema, uma bactéria contagiosa.

Também no caso dos gorilas das planícies ocidentais, quando um macho desenvolve manchas pálidas na cara, outro sinal de infeção por treponema, algumas fêmeas abandonam o grupo em busca de uma população mais saudável.

E nas pessoas? Num estudo publicado em 2021, investigadores mostraram ou pediram a 75 voluntários que imaginassem cenários “como pisar fezes com os pés descalços, ou encontrar um verme na comida, ou comer frango cru, ou ver um rato na cozinha” e classificar esse nojo numa escala numérica, explica a antropóloga Tara Cepon Robins.

Pelo menos nas sociedades ocidentais, as mulheres têm uma pontuação mais elevada do que os homens nestas medidas de repugnância.

E o nojo pode mesmo ser protetor da saúde humana.

Robins e a sua equipa descobriram que, entre os Shuar, um grupo indígena do Equador, aqueles que classificaram as descrições das cenas de Robins como menos repugnantes tinham mais probabilidades de serem infetados com bactérias e vírus.

Sarabian conta ainda que a cautela feminina em relação a potenciais fontes de infeção “faz sentido do ponto de vista evolutivo” já que “somos nós, as mulheres, que damos à luz e cuidamos da descendência“.

Há ainda quem acredite que o nojo é acentuado quando estamos mais vulneráveis a infeções — por exemplo, no início da gravidez. E não sem fundamento.

Um estudo de 2022 prova que, à medida em que o sistema de imunitário das grávidas enfraquece, estas tornam-se mais enojadas face a cenários como leite fora de prazo e baratas.

“Estou muito mais consciente das coisas que me podem pôr em risco no meu ambiente”, diz Sarabian. “O nojo não é uma emoção da qual nos possamos livrar muito facilmente.”

Ter nojo pode, então, proteger-nos de cenários perigosos, que podem comprometer a nossa saúde — e pode, a longo prazo, valer às mulheres (ou fêmeas) uma maior esperança média de vida.

ZAP //

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