Durante 10 anos uma comunidade de chimpanzés selvagens foi observada e os cientistas concluíram que a maioria dos adultos deixa de brincar quando a comida é escassa, mas não as mães com as suas crias.
De acordo com o New Scientist, quando não há muita comida, a maioria dos chimpanzés deixa de brincar para conservar energia, mas as mães continuam a passar muito tempo a brincar com as suas crias.
As brincadeiras são vitais para o desenvolvimento físico e psicológico dos chimpanzés jovens, pelo que é possível que as mães invistam energias neste comportamento para cuidar dos seus filhos — mesmo quando os tempos são difíceis.
Os grandes símios, como os gorilas, os bonobos e os chimpanzés, têm uma propensão para brincar, o que incluiu fazer cócegas, picar e perseguir-se uns aos outros.
Zarin Machanda, da Universidade Tufts, em Massachusetts, afirmou que “brincar ajuda a desenvolver as capacidades motoras e sociais. É algo que os bebés precisam realmente de fazer para se desenvolverem adequadamente”.
Ao longo de mais de uma década, Machanda e os seus colegas têm observado uma comunidade de cerca de 60 chimpanzés orientais, que vivem no Parque Nacional de Kibale, no Uganda.
Ao todo, a equipa registou 3891 episódios de jogos entre 2010 e 2019 e publicou esse resultados no 50 Current Biology.
“Em 2016 ou 2017, tivemos um verão incrível em que havia comida por todo o lado no nosso local de campo”, diz Machanda. “E uma das coisas que notámos foi que muitos chimpanzés adultos brincavam uns com os outros“.
Durante os períodos de abundância de comida, a equipa registou, pelo menos, um caso de brincadeira em 97% dos dias observados, mas este número caiu para apenas 38% quando os alimentos eram escassos.
Contudo, as mães chimpanzés continuaram a brincar com os seus filhos a taxas ainda mais elevadas durante estes períodos de baixa disponibilidade de alimentos.
“Isto foi realmente surpreendente“, afirma Kris Sabbi, membro da equipa da Universidade de Harvard, uma vez que a comida é geralmente mais importante para as chimpanzés fêmeas porque o custo energético da reprodução é muito elevado.
Durante os períodos de stress alimentar, os chimpanzés tendem a passar mais tempo sozinhos para evitar a competição pelos recursos — o que significa que as mães se tornam, frequentemente, o único parceiro social dos seus bebés — o que resulta em as mães passarem ainda tempo a brincar com as suas crias, de modo a compensar a falta de socialização com os seus pares e adultos.
“O facto de as mães continuarem a brincar com os seus bebés, com prejuízo para elas próprias, indica a importância que isso tem para o seu desenvolvimento“, diz Machanda. “É quase como o custo oculto da maternidade“, conclui.