As crianças são exímias no ato de perdoar — mas não as tente enganar

Investigadores alertam para a necessidade de pais e professores realçarem a importância da honestidade no gesto.

A capacidade de perdoar é um dos atos mais nobres que os seres humanos pode ter, o qual deve ser cultivado desde criança, dizem os especialistas em pedagogia. Mas, como devem os pais incutir esta capacidade nos filhos? De acordo com um novo estudo, a chave poderá estar em ensinar as crianças em entender outras perspetivas, ou seja, tentar que estas se coloquem no lugar dos outros.

A investigação — publicada no Journal of Experimental Psychology: General — também sugere que ensinar as crianças a pedirem desculpa com sinceridade pode ajudá-las a perdoar, ou seja, a aceitar as desculpas quando estas são emitidas por terceiros.

“O perdão é importante em crianças e adultos, no sentido a restaurar relações humanas e limitar conflitos futuros“, explica Kelly Lynn Mulvey, principal autora do da pesquisa e professora de psicologia na Universidade do Estado do Norte da Califórnia à Futurity. “Mesmo assim, não sabemos muito sobre o que torna mais provável uma criança perdoar outra, sobretudo durante o período entre os primeiros anos da infância e até à adolescência. Era precisamente isso que queríamos explorar com o nosso estudo”, avançou a investigadora.

Como tal, a sua equipa contou com a participação de 185 crianças, com idades compreendidas entre os 5 e os 14 anos para a investigação, sendo-lhes feitas entrevistas de fundo para recolher informações contextuais e avaliar as suas capacidades relacionadas com a “teoria da mente” — a qual, no quadro da psicologia, define a capacidade de cada indivíduo em perceber que os credos, intenções e desejos do outro são diferentes dos seus.

Posteriormente, as crianças foram sujeitas a cenários nos quais estavam envolvidas outras crianças — existindo, na pesquisa, de dois grupos. A cada criança foi dito que faziam parte de cada um deles, dependendo de vários cenários. No final, as crianças foram questionadas se estariam disponíveis para perdoar um grupo que as deixasse de fora num jogo ou numa atividade. Daqui resultaram três grandes conclusões.

Primeiramente, as crianças têm mais tendência a perdoar alguém se essa pessoa tiver pedido desculpa. Segundo, são também mais prováveis de perdoar alguém que faça parte de um grupo. Terceiro, quantas mais avançadas forem as capacidades de “teoria da mente” de uma criança, maior é a probabilidade destas perdoarem.

“Descobrimos que as crianças têm capacidades sofisticadas de perdoar”, sintetiza Mulvey. “As crianças são capazes de restaurar as suas relações com outras, até porque, na maioria das vezes, são parte interessada nisso.”

A pesquisa também descobriu dois aspetos que os pais e os professores podem estar particularmente interessados quando ensinam às suas crianças a importância da capacidade de perdoar. A primeira tem que ver com ajudar as crianças a perceber o quão importante é pedir perdão de forma significativa.

“As crianças têm uma capacidade de descobrir quando é que um pedido de desculpas é feito de forma honesta e quando tal não acontece, nas suas cabeças, gera-se a perceção de que o perdão não é algo que valha a pena. O perdão tem que ser claro no reconhecimento de que a pessoa que o perde fez algo de errado. Isto faz com que as crianças aceitem dar uma segunda oportunidade.

O segundo foco tem que ver, como já foi referido, com o entendimento das crianças em perceber o ponto de vista das outras pessoa, mesmo que estas sejam diferentes.

“Uma das maiores implicações do nosso estudo é que os professores e pais precisam de ajudar ativamente as crianças a cultivar a teoria da mente”, defende a investigadora. Um bom ponto de partida, aponta, é “fazer com que as crianças expliquem a razão por detrás das suas ações e como isto pode fazer com que as outras pessoas se sintam. Ajudar os jovens a desenvolver estas competências na infância irá ajudá-los a navegar num mundo diversificado e complexo“.

ZAP //

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