Armas nucleares a caminho da Bielorrússia. Rússia ameaça lançar ataque preventivo

Пресс-служба Президента России / Wikimedia

Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Aleksandr Lukashenko, presidente da Bielorrússia

O Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, disse esta quinta-feira que a Rússia começou a transferir armas nucleares para o seu país, cumprindo o anúncio feito em março pelo líder russo, Vladimir Putin.

A Rússia e a Bielorrússia assinaram esta quinta-feira o acordo que formaliza os procedimentos para o envio e instalação de armas nucleares táticas em território bielorrusso, mantendo-se, porém, o controlo do armamento em Moscovo.

“A transferência de cargas nucleares já começou”, disse Alexander Lukashenko, respondendo à pergunta de um jornalista num vídeo transmitido pelo canal não oficial da Presidência bielorrussa na plataforma Telegram, Pul Pervogo.

A Rússia, por sua vez, não comentou ainda a transferência do armamento.

Em reação ao anúncio do acordo, a Casa Branca classificou a transferência de armas nucleares para a Bielorrússia como “irresponsável“, mas diz que não vê qualquer indício de que a Rússia esteja a preparar-se para as utilizar.

“Não vimos qualquer razão para ajustar a nossa postura nuclear“, disse a porta-voz governamental, Karine Jean-Pierre, em conferência de imprensa, citada pela agência EFE.

“Os EUA vão continuar a acompanhar a situação”, acrescentou Jean-Pierre, que sublinhou que o país continua empenhado na defesa da NATO.

O anúncio dos dois países foi também criticado pela Comissão Europeia, que disse tratar-se de “um passo que apenas aumenta a tensão” na guerra na Ucrânia.

A assinatura do acordo ocorre numa altura em que a Rússia se prepara para enfrentar uma aguardada contraofensiva da Ucrânia.

Em março, Vladimir Putin anunciou que tinha já acertado com o homólogo bielorrusso a intenção de Moscovo instalar armas nucleares táticas de curto alcance na Bielorrússia.

Não há nada incomum nisso: os Estados Unidos fazem-no há décadas. Eles têm uma longa história de colocação das suas armas nucleares táticas no território dos seus aliados”, disse na altura o Presidente russo, durante uma entrevista transmitida pela televisão russa.

Tanto os responsáveis russos como os bielorrussos consideram que a medida é motivada pela hostilidade do Ocidente, que por sua vez já criticou a decisão. Putin indicou que a construção de instalações de armazenamento para armas nucleares táticas na Bielorrússia estaria concluída até 1 de julho.

A decisão foi então fortemente criticada pela líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaya.

“Temos de fazer tudo para impedir o plano de Putin de instalar armas nucleares na Bielorrússia, uma vez que isso garantirá o controlo da Rússia sobre a Bielorrússia nos próximos anos”, disse Tikhanovskaya à Associated Press. “Isso colocará ainda mais em risco a segurança da Ucrânia e de toda a Europa”, acrescentou.

A Rússia e a Bielorrússia têm um acordo de aliança ao abrigo do qual o Kremlin subsidia a economia bielorrussa, através de empréstimos e descontos no petróleo e no gás russos. A Rússia utilizou o território bielorrusso como ponto de partida para a invasão da vizinha Ucrânia e mantém um contingente de tropas e armas no país.

Alexander Lukashenko afirmou também esta quinta-feira que está preparado para uma possível invasão do território bielorrusso, adiantando “estar a par” dos rumores de uma possível revolta contra o regime de Minsk.

Lukashenko respondia aos comentários feitos na quarta-feira por um alto funcionário polaco, que alertou para a possível preparação, para breve, de uma revolta na Bielorrússia.

“Infelizmente, não prestam atenção às minhas palavras. Provavelmente, sabem o que eu disse há meses. Há muito tempo que o sabemos e estamos a preparar-nos para isso”, afirmou Lukashenko, citado pela agência noticiosa estatal Belta.

A este respeito, o líder bielorrusso assegurou que as autoridades “estão a seguir o rasto” dos potenciais instigadores. “Sabemos de facto quem são, sabemos onde estão e sabemos os seus nomes. Estamos prontos. Deixem-nos entrar”, desafiou Lukashenko.

Medvedev ameaça ataque nuclear preventivo

O vice-presidente do Conselho de Segurança russo, Dmitri Medvedev, alertou que a Rússia lançará um ataque nuclear preventivo na Ucrânia se os ucranianos receberem armas nucleares dos seus aliados.

Há leis inexoráveis na guerra. Se houver fornecimento à Ucrânia de armas nucleares, um ataque preventivo terá de ser lançado“, declarou Medvedev, citado hoje pela agência oficial russa TASS, durante uma visita ao Vietname.

Medvedev acrescentou que a NATO está a expandir os tipos de armas que estão a enviar para a Ucrânia e que “o regime de Kiev provavelmente receberá caças F-16  e talvez armas nucleares“.

“Mas, isso significa que mísseis com cargas nucleares cairão” sobre os ucranianos, disse Medvedev, Presidente da Rússia entre 2008 e 2012 e atual líder do Rússia Unida, o partido político ligado ao Kremlin.

Recentemente, o antigo general russo Andrey Gurulyov, agora deputado da Duma Estatal, levantou a possibilidade de Moscovo atacar o Alaska, território que os EUA compraram ao governo russo em 1867.

Gurulyov sustenta que a Rússia deveria visar diretamente território americano, lançando um ataque preventivo, e que o Alaska poderia ser um potencial alvo.

O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, enfatizou entretanto que a transferência de armas nucleares táticas na Bielorrússia não significa que serão entregues ao país aliado.

“A Rússia não está a entregar armas nucleares para a República da Bielorrússia. O controlo sobre estas armas e a decisão de usá-las permanece do lado russo”, enfatizou Shoigu.

ZAP // Lusa

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