A Arábia Saudita inaugurou, esta quarta-feira, o primeiro cinema comercial, pondo fim a uma proibição de quase 40 anos, num esforço do príncipe saudita para modernizar o reino ainda muito conservador.
Segundo a Reuters, o novo cinema, construído numa antiga sala de concertos em Riade, foi inaugurado com pompa e circunstância num evento VIP e com direito a passadeira vermelha. Membros do Governo e dignitários estrangeiros assistiram ao filme do herói da Marvel “Black Panther” num ecrã de quase 14 metros.
De acordo com o diretor executivo da AMC Enternainment Holding, Adam Aron, os bilhetes estão à venda a partir desta quinta-feira e as primeiras projeções começam na sexta. “Os sauditas vão agora poder ir a um cinema lindo e ver filmes na forma como é suposto serem vistos: num grande ecrã”, disse à agência.
A abertura deste cinema comercial marca mais um passo nas reformas encetadas pelo príncipe Mohammed bin Salman, que pretende abrir o país culturalmente e diversificar a economia.
Nos últimos dois anos, o príncipe saudita de 32 anos já levantou algumas proibições, incluindo em concertos públicos e autorizou a que as mulheres possam conduzir e assistir a jogos nos estádios de futebol.
Segundo a Reuters, muitos sauditas elogiaram a reintrodução do cinema no país, uma proibição com quase 40 anos, e partilharam elogios ao príncipe nas redes sociais. Outros expressaram confusão com a medida, considerando-a uma mudança radical.
Os cinemas foram proibidos na década de 80, sob pressão dos islamitas, numa altura em que a sociedade abraçou uma severa versão conservadora do Islão. Porém, a cultura ocidental nunca deixou de estar presente no país, com os filmes de Hollywood e as séries a serem vistos em casa (as projeções de filmes privadas já eram toleradas há muitos anos).
Em 2017, o Governo saudita avançou que iria levantar esta proibição, em parte para manter o dinheiro que muitos sauditas gastam em entretenimento noutros países como, por exemplo, o Dubai e o Bahrain.
Para servir uma população com mais de 32 milhões, a maioria com menos de 30 anos, as autoridades planeiam construir cerca de 350 cinemas com mais de 2.500 ecrãs até 2030, esperando atrair mil milhões de dólares só na venda anual de bilhetes.
No mês passado, uma fonte confirmou à agência Reuters que não haverá segregação nos cinemas, tal como ainda acontece na maioria dos espaços públicos. Embora não seja ainda claro como será aplicada a censura, fontes oficiais indicaram que as versões dos filmes que passam no Dubai ou no Kuwait serão adequadas. Por exemplo, duas cenas de beijos que aparecem no filme da Marvel foram cortadas.