Cientistas de todo o mundo debruçam-se sobre a preparação das populações (e de abrigos) para sobreviver a um possível Apocalipse. Para o antropólogo Cameron Smith, não seria necessário um número muito elevado de pessoas, desde que existisse diversidade genética suficiente.
Desde guerras nucleares à queda de um asteróide gigante, não é difícil imaginar cenários de como a vida humana na Terra poderá terminar, de um momento para o outro.
Mas, supondo que existam alguns sobreviventes, quantas pessoas seriam necessárias para manter a nossa espécie? A resposta mais rápida é: depende. Diferentes catástrofes criariam diferentes condições apocalípticas para as populações humanas sobreviventes.
Uma guerra nuclear, por exemplo, poderia desencadear um inverno nuclear, o que faria com que os sobreviventes enfrentassem temperaturas baixíssimas e escassez de alimentos, já para não falar da radiação à qual estariam expostos.
No entanto, se se ignorar alguns desses fatores, o número mínimo de sobreviventes necessário para manter a espécie humana seria provavelmente muito pequeno, em comparação com as, aproximadamente, 7,8 mil milhões de pessoas vivas hoje em dia.
“Com populações na casa das centenas, poderíamos provavelmente sobreviver durante muitos séculos. Muitas pequenas populações foram capazes de sobreviver durante séculos e até milénios”, disse Cameron Smith, do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Portland em Oregon, ao Live Science.
O trabalho de Smith sobre as primeiras civilizações humanas e sobre a colonização espacial dá-lhe uma boa visão sobre as nossas esperanças de sobrevivência a um Apocalipse. O antropologista acredita que as grandes cidades seriam mais vulneráveis, já que importam quase todos os alimentos e que dependem fortemente da eletricidade.
No início do período Neolítico – há cerca de 12 mil anos atrás -, quando os humanos começaram a cultivar, havia muitas pequenas povoações constituídas apenas por centenas (talvez até cerca de mil) indivíduos, disse Smith.
“Essas eram populações bastante independentes, mas suspeito de que também tinham vínculos reprodutivos e interconexões matrimoniais com outras aldeias. E, num cenário apocalíptico, imagino que a mesma coisa aconteceria”, acrescentou.
Uma população sobrevivente de apenas algumas centenas de pessoas precisaria de uma forma de manter um sistema de reprodução, disse ainda, referindo que a endogamia – enlace matrimonial entre pessoas que pertencem ao mesmo grupo familiar, social, étnico, religioso – é um grande desafio enfrentado por pequenas populações.
As consequências da endogamia podem, até, ser demonstradas com a queda da dinastia dos Habsburgos espanhóis, que governaram Espanha durante os séculos XVI e XVII.
Essa dinastia manteve o casamento dentro da família até 1700, quando a linhagem terminou com o rei Charles II, um homem infértil e com uma deformação facial, escreve o Live Science.
E um cenário semelhante poderia acontecer com uma população humana que tivesse opções de reprodução limitadas, como por exemplo após um Apocalipse.
A única forma de o evitar seria se existisse diversidade genética suficiente para evitar uniões estritamente relacionadas e se houvesse um número suficiente de indivíduos em idade reprodutiva do sexo oposto, conhecido como o tamanho efetivo da população.
Os humanos poderiam, potencialmente, preparar as populações para sobreviver ao dia do juízo final. Seth Baum, cofundador e diretor executivo do Global Catastrophic Risk Institute, analisa o risco da ocorrência de catástrofes globais e defende a prevenção de potenciais catástrofes.
No caso de uma guerra nuclear, por exemplo, a prevenção passaria por manter boas relações entre os países que têm armas nucleares na sua posse. No entanto, a pesquisa de Baum também inclui a perspetiva de construir refúgios para proteger os humanos no caso de uma catástrofe global.
“Se vai acontecer uma catástrofe, nós vamos querer ter algumas dessas garantias a funcionar, para que pelo menos alguma população possa sobreviver“, disse Baum, em declarações ao Live Science.
Um fator importante em qualquer tipo de refúgio é a capacidade de isolar um grupo do que esteja a afetar o resto do mundo, acrescentou Baum. É o caso, por exemplo, de certos países insulares como a Nova Zelândia e a Austrália, que se transformaram em refúgios de grande escala durante a pandemia de covid-19, mantendo o vírus longe.
Um passo importante seria ter um refúgio dedicado a situações de catástrofe, disse Baum, que comparou esse lugar hipotético ao Global Seed Vault em Svalbard, na Noruega, que mantém cópias de segurança de sementes de todo o mundo, dentro de uma montanha.