Giannis tem 23 anos e com o trabalho de polícia na Acrópole, em Atenas, sustenta toda a família. Apesar dos primeiros indicadores económicos positivos para a Grécia, não vê que o país melhore em breve.
Num saco de plástico, Giannis leva os restos do jantar. Sentado no topo da ‘rocha sagrada’, com um colega polícia com quem patrulha diariamente a zona da Acrópole, das mais turísticas em Atenas, aproveita para almoçar, antes de começar o dia de trabalho.
O Governo grego tem destacado os primeiros sinais de recuperação da economia, como o primeiro saldo primário positivo desde o início da crise ou o crescimento da produção industrial e das exportações. Mas nas ruas de Atenas, os gregos não veem melhorias na sua vida.
“O problema não se vai resolver, só vai piorar. Há muitas pessoas que não têm mesmo dinheiro para viver, porque não têm emprego”, disse à Lusa.
A Grécia tem uma taxa de desemprego de 28% (dados de fevereiro), um valor que entre os jovens dos 15 aos 24 anos dispara para os 55%.
E mesmo quem tem trabalho, como é o caso de Gianni, “não consegue pagar todas as contas”. O jovem polícia sustenta a família: os pais e os dois irmãos, um deles deficiente motor.
Dois anos depois de o Eurogrupo ter aprovado o segundo resgate à Grécia, a 14 de março de 2012 e por muito que o Governo grego sublinhe os primeiros indicadores económicos favoráveis, os gregos permanecem pessimistas: 71% considera que “o pior ainda está para vir”, segundo dados da Comissão Europeia.
À entrada da Acrópole, Loula prepara mais uma visita ao monumento. É guia turística em Atenas há 28 anos, depois de ter decidido deixar a Austrália e casar-se com um grego.
Dá “graças a Deus” por ainda ter emprego e por “continuar a existir, felizmente, muito turismo”. Tem vários amigos desempregados e defende a saída do euro. O marido esteve desempregado, mas encontrou finalmente trabalho. “Foram tempos muito difíceis só com o meu ordenado. Nem quero pensar como se aguentam as pessoas que não têm nada”, lamenta.
Pelo bairro de Plaka em direção ao centro da cidade, contam-se pelos dedos das mãos os clientes que bebem cafés nas esplanadas.
“Não vejo melhorias nos próximos 10 ou 20 anos. A recuperação anunciada pelo Governo é falsa”, afirma Leonidas à Lusa, na Praça Kapnikarea.
O motorista dos autocarros da capital grega perdeu benefícios e viu o seu salário reduzido. Critica uma privatização do setor, que está em cima da mesa, e o despedimento de 11.500 trabalhadores do setor do Estado, medida com a qual o Governo grego se comprometeu.
Natural da península de Peloponeso, Leonidas ainda pensou em voltar a casa e trabalhar na agricultura, mas a falta de serviços e a dificuldade em arranjar financiamento têm-no mantido na capital.
“O problema é que na Grécia não há dinheiro. Ninguém tem e ninguém empresta. Queres ter o teu pequeno negócio, lançar projetos e não consegues. E fora de Atenas é ainda pior”, resumiu.
Subindo pela rua Ermou, há poucas lojas fechadas e nas paredes leem-se frases de protesto, como “Esperança Para Nada” ou “Revolução”.
Numa esplanada, Natalie, a viver em Atenas há dois meses, conta à Lusa que a “grande maioria dos amigos” gregos que já fez está desempregada e “não vê fim à crise”. A conversa é interrompida por uma idosa a pedir esmola.
“A situação é horrível. Ninguém tem dinheiro. Veem-se muitas pessoas na rua e a pedir. Há dias que sou abordada por dez a 20 pessoas a pedir”, comenta.
Já na praça Sintagma, palco da contestação grega à austeridade, o taxista Atanatious diz que “há menos manifestações”, mas que “a situação continua a estar má”. Além da falta de trabalho, critica a subida de preços e dos impostos. “Não vai melhorar tão cedo”, considera.
A Grécia está há quatro anos sob assistência financeira, tendo recebido dois resgastes no valor de cerca de 240 mil milhões de euros. O Governo liderado por Antonis Samaras afirma que o país deixará de precisar de ajuda internacional ainda este ano, mas o Eurogrupo admitiu já discutir um eventual terceiro resgate ao país no verão.
/Lusa