No mesmo dia, os dois organismos revelaram previsões notoriamente diferentes para a economia, evidenciando as diferentes leituras dos dados económicos revelados recentemente.
Durante a manhã de ontem, chegaram de Bruxelas notícias positivas para a economia portuguesa, já que esta será a que mais crescerá na União Europeia e na Zona Euro no que resta de 2022. Simultaneamente, Portugal será o país que menos sofrerá com a inflação, deixando-o em condições favoráveis relativamente aos seus congéneres. No entanto, e partindo dos mesmos números, o Fundo Monetário Internacional perspetiva um cenário de abrandamento económico e uma taxa de inflação nos 6%.
De acordo com o jornal Público, esta variação nas previsões refletem a incerteza e a volatilidade do atual momento económico: por um lado, os impactos da pandemia ainda se fazem sentir e, por outro, as consequências da guerra na Ucrânia são incertas. A forma como estes choques são avaliados, e o peso que lhe é atribuído, são os principais motivos para as variações nas previsões.
Bruxelas estima que a economia portuguesa cresça 5,8% em 2022, o valor mais elevado de todos os países que pertencem à União Europeia, e que permitirá ao país ficar ligeiramente abaixo da média do bloco no final do ano, superando-a no próximo. Ainda assim, é importante ressalvar que tal acontece porque a economia portuguesa foi das que mais se ressentiu no pós-pandemia. Já relativamente à inflação, Bruxelas prevê para Portugal um valor médio, em 2022, de 4,4%, o valor mais baixo de toda a União — em 2023, o indicador desce mesmo para 1,9%.
Já na visão do FMI, o crescimento perspetivado é mais baixo e a inflação mais alta: no que concerne ao primeiro indicador e para 2022, perspetiva 4,5% e, para 2023, 2%. Relativamente à inflação, o FMI antecipa uma aceleração de 6% este ano. Tal como sublinha o Público, e à luz dos dados da economia conhecidos nas últimas semanas, é possível depreender que os dois organismos consideraram em níveis os mesmos.
Rupa Duttagupta, a chefe de missão em Portugal, explicou que as previsões feitas já refeltem os “dados do turismo e a procura interna mais alta”, isto “apesar de os dados mostrarem força, há ainda uma grande incerteza.” “No nosso relatório final da missão [que será divulgado dentro de cerca de um mês] vamos olhar para os dados completos do PIB do primeiro trimestre que irão entretanto ser divulgados e pode haver mais revisões nas nossas previsões. Há vários riscos, positivos e negativos, para o curto prazo.”
É, por isso, claro que que Bruxelas foi menos prudente, tendo feito referência à expectativa de que “o setor dos serviços, em particular o turismo de estrangeiros, se prepara para recuperar fortemente de uma base baixa”. Para o FMI, por sua vez, a recuperação do turismo é encarada como uma possibilidade, mas não uma surpresa. As divergências também são visíveis na análise às consequências da guerra na Ucrânia.