Associação ambientalista critica decisão de António Costa, que considera não estar em linha com as políticas defendidas e implementadas ao longo dos últimos anos. Zero diz mesmo que “está em causa a imagem do país”.
O primeiro-ministro, António Costa, vai estar ausente na Cimeira de Líderes Mundiais da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), confirmou ontem fonte oficial do gabinete do chefe do Governo. A reunião tem início em Glasgow, na Escócia, amanhã e a cimeira de chefes de Estado e de governo decorre entre 01 e 02 de novembro.
Segundo a agenda da reunião, a intervenção de António Costa estava prevista para o primeiro dia, da parte da tarde. João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, por sua vez, tem uma intervenção prevista para 8 de novembro.
A decisão já motivou críticas de associações ambientalistas portuguesas, como é o caso da Zero. A organização não governamental lamenta a decisão, lembrando que a ausência contrapõe “o papel de Portugal e do próprio primeiro-ministro, que sempre elegeu, e bem, a relevância das alterações climáticas e da descarbonização”, o que, considera a Zero, “justificava uma participação presencial”.
Insistindo no ponto, a organização admitiu que a ausência de Costa em Glasgow é “compreensível face à situação que o país atravessa”, mas realçou que “este é um momento decisivo para a luta contra as alterações climáticas, na qual Portugal tem demonstrado um papel ativo e deve assumir uma liderança forte e ambiciosa ao nível da União Europeia”, mais a mais, insistiu, quando está em causa “a imagem, reputação e credibilidade das políticas desenvolvidas em nome do país”.
Aliás, a Zero lembrou que a primeira participação oficial internacional de António Costa “teve lugar precisamente na COP21 aquando da aprovação do Acordo de Paris”. Por outro lado, reconheceu que “o tema das alterações climáticas e da descarbonização tem sido uma das grandes prioridades” de António Costa, e que, agora, “merecia quer visibilidade, quer a possibilidade de discussão do percurso e perspetivas do país com outros líderes, independentemente do futuro mais próximo do governo”.
A cimeira, que decorre até 12 de novembro, contará com reuniões plenárias preliminares que juntarão os representantes dos países signatários da Convenção, do Protocolo de Quioto e do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa. A cerimónia oficial de abertura realiza-se na segunda-feira, com o primeiro-ministro do Reino Unido, país anfitrião, juntamente com a Itália, com “momentos criativos e culturais”, de acordo com a organização.
Posteriormente, começará a cimeira de chefes de Estado e de Governo, que até terça-feira farão intervenções dando conta dos seus compromissos e ambições renovadas para dar corpo ao Acordo de Paris e limitar o aquecimento global até ao final do século. Ainda na segunda-feira, os líderes mundiais ouvirão cientistas a descrever o estado da arte nas questões do clima e traçar o cenário que espera o mundo caso não se cumpram os objetivos definidos em 2015 em Paris com ainda mais ambição e rapidez.
As declarações no primeiro dia decorrerão em duas salas de plenário ao mesmo tempo, uma com chefes de Estado, outra com primeiros-ministros, num desfile de líderes mundiais que incluirá o Presidente norte-americano, Joe Biden, o presidente francês, Emmanuel Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. As declarações dos chefes de Estado e de governo prosseguirão na terça-feira e os dias seguintes serão organizados por temas: Finanças na quarta-feira, Energia na quinta, Juventude na sexta.
No sábado, dia que a COP26 consagra ao tema Natureza e Uso do Solo, está prevista para Glasgow uma manifestação de ativistas climáticos, convocada pelo coletivo Coligação COP26 e marcada pelo pessimismo da organização quanto às hipóteses de a cimeira trazer alguma mudança que resulte realmente. Ao longo das duas semanas da COP26, esta coligação promove a sua própria “cimeira alternativa“, com debates, encontros e iniciativas de protesto.
Os dias temáticos na cimeira prosseguem na segunda semana até ao fim das negociações, cuja tradição é estenderem-se pelo fim de semana, para lá de sexta-feira, dia agendado para apresentação das conclusões.