No Antigo Egipto, a Via Láctea era uma escada para a vida após a morte

Ahmed Yousry Mahfouz / Wikimedia

Um novo estudo introduz uma interpretação da Via Láctea como uma rota para o além e um guia para a migração dos pássaros.

O estudo, publicado na Journal of Astronomical History and Heritage, revela dados sobre a importância da Via Láctea na cosmologia do antigo Egito, sugerindo que a galáxia não era apenas um fenómeno celestial, mas também um ícone mitológico profundamente enraizado na sua cultura e crenças.

A pesquisa propõe que a Via Láctea possa ter sido representada por Nut, a deusa do céu, e desempenhado um papel multifacetado na orientação tanto das almas dos mortos quanto das aves migratórias.

Há muito que a Via Láctea confunde os egiptólogos em relação ao seu significado exato nas crenças do Antigo Egitpo. A nova análise introduz uma interpretação da Via Láctea como um caminho para o submundo e um guia para a migração das aves, estabelecendo paralelos com crenças semelhantes noutras culturas.

Na mitologia egípcia, Nut é retratada como uma mulher adornada com estrelas, estendendo-se sobre a Terra. Tradicionalmente, a representação de Nut com a cabeça a oeste e a parte traseira a leste pensava-se ser inconsistente com as posições mutáveis da Via Láctea, que mudam de leste para oeste no verão para norte-sul no inverno, explica o IFLScience.

No entanto, o estudo aponta que as poses de Nut em várias artes funerárias, especificamente os seus braços estendidos a 45 graus, poderiam imitar as mudanças de alinhamento da galáxia através das estações.

O estudo explora ainda a representação de Nut e da Via Láctea no Livro de Nut, onde é sugerido que durante o inverno, a Via Láctea alinha-se com os braços de Nut, e no verão, esboça o seu tronco ou coluna vertebral. Este alinhamento suporta a teoria de que a representação física de Nut poderia, de facto, espelhar o plano galáctico.

A pesquisa também examinou paralelos culturais, observando que, tal como em algumas tradições dos nativos americanos e dos maias Yucatec, onde a Via Láctea é vista como uma rota para os espíritos em transição para a vida após a morte, textos egípcios antigos descrevem Nut como uma “escada” que ajuda as almas na sua ascensão ao além. Esta representação metafórica alinha-se com outras mitologias globais.

Além disso, o estudo aborda o papel da Via Láctea na migração das aves, um aspecto retratado no Livro de Nut. Cada inverno, diz-se que as aves emergem da extremidade norte de Nut, uma narrativa que ressoa com a terminologia “Caminho dos Pássaros” usada em línguas bálticas e finlandesas modernas para a galáxia.

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