Porque é que os animais continuam a evoluir para caranguejos?

Ricardo Andrade Veras / Wikimedia

Ocypode quadrata, também chamado “caranguejo-fantasma”

O processo pelo qual alguns crustáceos evoluem um corpo semelhante a um caranguejo é conhecido há mais de um século — mas os cientistas ainda não sabem ao certo porquê.

Qual é a estrutura corporal que oferece um melhor desempenho perante as ameaças do mundo? Segundo a evolução, é o aspeto de um caranguejo. Um plano corporal semelhante ao do caranguejo evoluiu pelo menos cinco vezes entre os crustáceos decápodes, um grupo que inclui caranguejos, lagostas e camarões.

Aliás, a forma do caranguejo evoluiu tantas vezes que o biólogo evolucionista L.A. Borradaile cunhou o termo carcinização em 1916 para descrever o processo de evolução convergente em que um crustáceo evolui para uma forma semelhante à do caranguejo a partir de uma forma distinta. Borradaile descreveu a carcinização como “uma das muitas tentativas da Natureza para fazer evoluir um caranguejo”.

A realidade é que, embora a carcinização já seja conhecida há mais de um século, os cientistas ainda não sabem ao certo porque é que acontece. Porém, isso não impede que tenham várias teorias.

Muitos crustáceos adotaram um plano corporal semelhante ao dos caranguejos, mas na realidade pertencem a um grupo de crustáceos muito próximo chamado “falsos caranguejos”, explica Scientific American.

Quando uma característica aparece num animal e se mantém ao longo de várias gerações, é um sinal de que a característica é vantajosa para a espécie. No entanto, a diversidade de animais com este tipo de corpo torna difícil identificar um benefício em comum.

A bióloga evolucionista Joanna Wolfe escreveu um artigo científico, publicado em 2021, em que sugere alguns desses benefícios. Por exemplo, o facto de os caranguejos terem a cauda enfiada para dentro, enquanto a lagosta tem uma cauda muito mais proeminente, pode reduzir a quantidade de carne vulnerável aos predadores. E a carapaça plana e arredondada pode ajudar o caranguejo a deslocar-se lateralmente de forma mais eficaz do que o corpo cilíndrico da lagosta permitiria.

“É possível que ter um corpo de caranguejo não seja necessariamente vantajoso, e talvez seja uma consequência de outra coisa no organismo”, considerou Wolfe.

A forma do corpo do caranguejo poderá deixar mais flexibilidade para que os animais desenvolvam funções especializadas para as suas pernas, para além da marcha.

“Pensamos que o plano corporal do caranguejo evoluiu tantas vezes de forma independente devido à versatilidade que os animais têm”, disse Javier Luque, que trabalhou com Wolfe no estudo de 2021. “Isso permite-lhes ir a sítios onde nenhum outro crustáceo foi capaz de ir”.

Wolfe vê os caranguejos como Lego: têm muitos componentes diferentes que podem ser trocados sem alterar drasticamente outras características.

ZAP //

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