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Andorra reabre fronteira e é invadida por franceses em busca de tabaco, álcool e produtos de limpeza

Andorra reabriu esta segunda-feira as fronteiras com França e Espanha e foi praticamente invadida, sobretudo por franceses, que aproveitaram para comprar álcool, cigarros e combustível sem taxas e até mesmo produtos de limpeza.

“Pelas 4h da manhã já havia gente nas ruas à espera. As pessoas estão dispostas a tudo por causa dos cigarros”, brincou um guarda-fronteira do principado nos Pirenéus ao verificar os bilhetes de identidade de quatro jovens na casa dos vinte anos.

Pouco depois da abertura do comércio, praticamente asfixiado pelos dois meses de encerramento devido à pandemia de covid-19, a sinuosa estrada que conduz a Pas-de-la-Case, primeira localidade andorrenha após a fronteira, estava saturada, com longas filas de automóveis ao longo dos dez quilómetros.

As autoridades locais controlaram a chegada de cerca de 6.000 veículos de localidades próximas e, segundo Jean-Michel Rascagneres, presidente adjunto da freguesia de Encamp, em Pas-de-la-Case, cerca das 11h locais (10h em Lisboa) já tinham atravessado a fronteira cerca de 5.000 viaturas.

Os “turistas expresso” faziam o regresso a França em poucas horas e mostravam todo o seu humor em relação às medidas de segurança e sanitárias.

O obrigatório uso de máscaras e de gel à entrada das lojas, sentidos únicos de circulação nos passeios, agentes da polícia e voluntários ao sol para fazerem respeitar o espaço de metro e meio entre as pessoas trouxeram um clima de segurança.

“Tudo isso dá-me segurança”, disse Éléonore Ducris, 76 anos, vinda de Ariège, departamento francês limítrofe, para comprar cigarros com uma amiga e para beber o primeiro café numa esplanada há dois meses.

Numa outra esplanada de um café-restaurante, Carmel Alcarraz deliciava-se com uma cerveja e com um pacote de batatas fritas. “Isto faz-me ressuscitar. Tinha mesmo necessidade disto”, realçou o “cliente habitual” de Pas-de-la-Case, destacando que costuma vir a Andorra de carro e que demora normalmente uma hora a conduzir, mas que hoje demorou mais de duas.

No saco que o acompanhava, nem tabaco nem álcool, apenas produtos de limpeza. “Sou a rainha dos produtos de limpeza e adoro vir aqui comprá-los”, disse uma sexagenária vinda de Espanha, sublinhando que costuma viajar uma vez por mês a Andorra para se abastecer.

Os comerciantes de Pas-de-la-Case, para quem os turistas franceses representam mais de 95% das compras durante o período estival, mostram o seu sentido de humor atrás das máscaras. “Enfim, começamos a trabalhar e nem conseguimos ficar em casa”, afirmou Arnaud Monségu, vendedor de bebidas alcoólicas e espirituosas.

A epidemia de covid-19 asfixiou a economia andorrenha, que depende essencialmente do comercio transfronteiriço e do turismo, o que provocou um grande aumento do desemprego, ameaçando os cerca de 78 mil habitantes com uma recessão económica.

Embora os preços sejam substancialmente mais baixos do que em França, numerosos são os comerciantes que colocam cartazes nas montras a indicar reduções de 20%, 30% ou mesmo 50%. “Avancei com saldos porque todos nós estamos com um stock bastante grande”, disse Jean-Jaques Carrié, presidente de uma associação de comerciantes de Pas-de-la-Case.

Mas, para relançar a economia do pequeno Estado já algo fragilizado mesmo antes da pandemia do novo coronavírus e que não vai beneficiar do plano de relançamento económico da União Europeia (UE), uma vez que não faz parte da comunidade, o Governo de Andorra quer atrair muitos consumidores do espaço europeu.

“O território [andorrenho] tem 90% de zonas verdes, naturais. E isso é a outra Andorra que as pessoas desconhecem e que desejamos que possam vir a conhecer”, explicou a ministra do Turismo do pequeno Estado, Véronica Canals.

Andorra registou 764 casos de covid-19, de que resultaram 51 mortes. O total de casos recuperados é de 692. A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 372 mil mortos e infetou mais de 6,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 2,5 milhões de doentes foram considerados curados.

ZAP // Lusa

 

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