Um novo estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) sugere que expor pacientes a luz intermitente e sons pulsantes, ambos sintonizados numa frequência de 40 hertz, pode reverter os principais sinais do Alzheimer no cérebro.
Em experiências realizadas em ratos de laboratório, aglomerados de proteínas prejudiciais que interferem nas funções cerebrais foram parcialmente eliminados usando apenas luz e som, melhorando a função cognitiva dos animais.
Esta técnica ainda não foi clinicamente testada em humanos. Por este motivo, ainda é muito cedo para dizer que seria uma técnica viável. Além disso, adianta o HypeScience, os ratos foram geneticamente modificados para apresentarem sintomas parecidos com a condição em humanos.
No entanto, os resultados iniciais indicam uma forma barata e simples de tratar esta forma tão comum de demência.
Tudo começou em 2015, quando a neurocientista Li-Huei Tsai, diretora do Instituto Picower de Aprendizagem e Memória do MIT, trabalhou numa experiência que tinha como objetivo manipular a atividade do cérebro piscando uma luz branca no rosto destes animais.
Tal como as luzes, os cérebros também “piscam”, sendo geradas ondas cerebrais quando grandes grupos de neurónios oscilam entre si. Desta forma, quando a investigadora sintonizou a luz para piscar 40 vezes por segundo – ou 40 hertz – os cérebros das cobaias geraram ondas gama a 40 hertz.
Essas ondas são mais ativas quando prestamos muita atenção ou quando procuramos as nossas memórias de forma a entender o que nos está a acontecer. No caso dos pacientes com doença de Alzheimer, estas ondas podem ser “bloqueadas” e ter um papel fundamental na patologia.
Quando Tsai dissecou os cérebros dos animais, observou que “a estimulação da luz intermitente desencadeou uma tremenda resposta na microglia – células do sistema imunológico do cérebro que limpam os restos celulares e os resíduos tóxicos, incluindo a amilóide. Estas células são prejudicadas pelo Alzheimer, mas a luz parece restaurar as suas habilidades”.
Este processo de eliminação só aconteceu no córtex visual, onde o cérebro processa informações leves. Para conseguir que os mesmos efeitos penetrassem mais fundo no cérebro, a cientistas resolveu adicionar um som com uma frequência também de 40 hertz – apenas alto o suficiente para os humanos conseguirem ouvi-lo.
Estudos prévios haviam mostrado que explosões de ultrassom permitem que poderosos tratamentos passem pelos vasos sanguíneos até ao cérebro, além de encorajar a microglia a acelerar o seu ritmo de trabalho. Apesar de o ruído de 40 hertz ser muito menor, mostrou-se bastante eficaz.
Quando as cobaias receberam o tratamento de uma hora com luz e som durante sete dias seguidos, as placas amilóides começaram a cair não apenas nos córtices auditivos e visuais, mas também no córtex pré-frontal e no hipocampo.
“Este foi um dos grandes saltos do novo estudo. Estes são os centros de aprendizagem e memória do cérebro. Houve uma redução de 40% ou 50% nos níveis de amilóide e proteína tau. É um feito absolutamente impressionante”, afirmou Shannon Macauley, neurocientista da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos.
Além dos resultados evidentes na química cerebral dos ratos, os animais tivera também melhor desempenho numa série de tarefas cognitivas. De acordo com Jorge Palop, neurologista da Universidade da Califórnia em San Francisco, nos Estados Unidos, uma possível explicação para o sucesso deste tratamento é que os cérebros com Alzheimer têm neurónios irregulares, muitas vezes hiperativos.
Ao fornecer aos cérebros uma batida constante e regular, a luz e o som repetidos podem funcionar como uma espécie de metrónomo para a atividade cerebral. “Seria como ‘redefinir’ o cérebro dos ratos todos os dias e corrigir algumas dessas atividades anormais que eles têm”, explicou.
Descobrir novos mecanismos para eliminar resíduos e sincronizar a atividade cerebral é um enorme passo para o desenvolvimento de tratamentos para todos os tipos de distúrbios neurológicos, mas traduzir as descobertas para o cérebro humano exigirá ainda mais trabalho, especialmente quando há potenciais contrastes, nomeadamente em relação às ondas famas.
A boa notícia é que os primeiros testes de segurança mostraram que este processo parece não ter efeitos colaterais claros. O artigo científico foi recentemente publicado na Cell.