Alunos da Casa Pia acusam D. Ximenes de abusos sexuais

Dois timorenses que passaram pela Casa Pia terão sido sexualmente abusados pelo bispo D. Ximenes Belo, disse o advogado Pedro Namora.

“Tal sucedeu num encontro de casapianos, num restaurante, em Lisboa, em 2003, muito perto do Colégio Pina Manique, na zona de Belém. No final, os dois timorenses vieram falar comigo. Tinham ambos cerca de 40 anos e eu lembro-me deles nos anos que passei na instituição”, indicou ao Correio da Manhã, que avançou a notícia.

“Contaram-me que os abusos do bispo D. Ximenes Belo aconteceram em Timor, entre 1974 e 1976, teriam eles entre 11 e 13 anos”, continuou.

O advogado afirmou igualmente que não se lembra de ter informado as autoridades. “É provável que o tenha feito, como aliás fiz em relação a todos os casos que me foram relatados”, referiu.

“Os dois timorenses estavam tristes e ainda traumatizados pelo que lhes sucedeu. Não só na situação dos abusos do bispo, mas também porque, na altura, ainda não tinham esquecido os horrores por que passaram em Timor. Contaram-me que viram morrer familiares e amigos às mãos dos indonésios”, contou Pedro Namora.

“Acho, por isso, intolerável que José Ramos-Horta [atual Presidente de Timor-Leste] tenha desvalorizado a dor das vítimas de D. Ximenes, ao dizer que ele era muito bem-vindo a Timor e que era um herói”, observou o advogado.

No processo de pedofilia da Casa Pia, Pedro Namora denunciou o antigo motorista da instituição, Carlos Silvino (‘Bibi’), e o apresentador Carlos Cruz, que apanharam, respetivamente, 15 anos e seis anos de prisão.

Como relatou o ZAP, acusações contra D. Ximenes Belo, de 74 anos, surgiram após a publicação de uma investigação feita pelo jornal De Groene Amsterdammer, a 28 de setembro, onde foram divulgados testemunhos de alegadas vítimas de abusos, que afirmam ter sido molestadas durante vários anos.

O jornal dos Países Baixos revelou ter ouvido várias vítimas e 20 pessoas com conhecimento do caso, incluindo “individualidades, membros do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e elementos da Igreja”.

Segundo a revista, as primeiras acusações surgiram em 2002, ano em que João Paulo II aceitou a renúncia do bispo como administrador apostólico de Díl. O Papa justificou a decisão invocando o cânone 401.2 do Código de Direito Canónico, que fala em motivos como doença ou problemas graves.

Em janeiro de 2003, saiu de Timor-Leste e passou a residir em Portugal. Em junho de 2004, tornou-se “assistente dos sacerdotes” de Maputo, Moçambique, onde também se dedicou ao catecismo. Voltou depois a Portugal, vivendo na residência dos Salesianos, em Lisboa, que deixou após a publicação da notícia dos abusos sexuais pela De Groene Amsterdammer, a 28 de setembro de 2022.

ZAP //

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