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Medo força mudanças nos trajetos dos autocarros em Lisboa

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Linhas noturnas da Carris Metropolitana com supressões devido ao aumento de violência após a morte de Odair Moniz, baleado pela polícia na Amadora. Linhas 714 e 754 suspensas. Oeiras e Amadora são as zonas mais afetadas.

Cresce cada vez mais o sentimento de insegurança entre os motoristas da Carris Metropolitana, especialmente nas rotas noturnas em diversos bairros da Grande Lisboa.

Na sequência dos episódios de violência e protestos que têm marcado os últimos dias, após a morte de Odair Moniz — morador do Bairro do Zambujal que foi baleado por um agente da PSP em circunstâncias ainda sob investigação — os receios dos condutores resultaram em mudanças nas linhas, com desvios e suspensões de rotas que têm prejudicado os locais.

A Carris anunciou “desvios pontuais em alguns troços do trajeto, decorrentes de alterações de circulação temporárias, em algumas vias”, nas carreiras 714 e 754.

As mudanças afetam diretamente dezenas de milhares de habitantes que dependem destas linhas, especialmente em horários noturnos. Trabalhadores dos serviços essenciais, estudantes e residentes de bairros periféricos, como a Outurela em Oeiras e o Zambujal na Amadora, são os mais afetados.

Os atos de vandalismo que se espalharam por toda a Grande Lisboa — houve protestos, apedrejamentos de autocarros e incêndios de viaturas, alguns deles com recurso a cocktails-molotov — resultaram em danos graves em pelo menos quatro autocarros e deixaram um motorista ferido em Santo António dos Cavaleiros, Loures.

Para muitos condutores, é agora insustentável guiar os autocarros públicos. Alguns recusam-se a circular em certas áreas.

“Paga o justo pelo pecador”

Os motoristas acreditam que a cobertura mediática dos incidentes poderá contribuir para a continuidade dos distúrbios, avisa o Sindicato Nacional de Motoristas e outros Trabalhadores (SNMOT).

“Não podemos dar cobertura a estes grupos. Porque é isso que eles querem. Na verdade, e infelizmente, os atos de violência contra os motoristas são uma constante em determinados bairros, as agressões verbais e físicas acontecem todos os dias. A diferença é que agora queimaram autocarros”, diz ao Público Manuel Oliveira, vice-presidente do sindicato.

“E estas supressões de carreiras acabam por ser um enorme prejuízo para as pessoas que delas precisam”, prossegue: “paga o justo pelo pecador”.

“Canal direto” com a PSP via WhatsApp

Para enfrentar esta crise, a Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), entidade que coordena a Carris Metropolitana e outras operadoras na região, criou um “canal direto” de comunicação com a PSP através da plataforma WhatsApp, permitindo aos motoristas partilhar em tempo real incidentes e situações suspeitas que possam comprometer a segurança dos percursos.

Este canal está disponível a todos os motoristas da Carris Metropolitana e de outras operadoras, incluindo a CP, Metropolitano de Lisboa, Fertagus, Transtejo-Soflusa e serviços locais como Mobicascais e Barreiro.

Ainda assim, a Carris Metropolitana tem optado por uma política de discrição na comunicação com os seus passageiros: pouco diz nas redes sociais e anúncios públicos sobre as alterações no serviço têm sido evitados.

Tomás Guimarães, ZAP //

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