O bodião-limpador responde positivamente ao teste do espelho, considerado o padrão máximo para determinar a autoconsciência em animais.
A capacidade de se reconhecer numa imagem refletida foi testada em peixes por um grupo de investigadores alemães e japoneses. Os investigadores recorreram ao clássico teste do espelho, que, em caso de resultado positivo, é considerado um marco da cognição em todas as espécies.
O Labroides dimidiatus, conhecido como bodião-limpador, é encontrado facilmente em todos os recifes de coral. Os cientistas testaram a autoconsciência desta espécie, colocando uma marca colorida nos peixes que só podia ser vista ao espelho. Curiosamente, os peixes tentaram tirar as marcas esfregando o corpo contra superfícies duras depois de se verem ao espelho.
Segundo a Visão, nenhum dos peixes tentou tirar marcas transparentes quando se viam ao espelho e também nenhum tentou tirar marcas coloridas quando não havia espelho, o que aumenta a convicção de que a tentativa de as remover foi uma resposta ao estímulo visual.
Além disso, concluíram os investigadores, nenhum peixe sem qualquer marca agiu como se tentasse removê-la quando interagia com peixes marcados, nem tentou tirar marcas colocadas no próprio espelho. O estudo, publicado recentemente na PLOS Biology, sugere que os peixes podem ter capacidades cognitivas muito acima do esperado.
No entanto, a interpretação dos resultados não é assim tão clara. Quereraá isto dizer que os peixes têm autoconsciência, um traço que se pensava exclusivo em primatas e mais alguns mamíferos? Ou será que o teste do espelho pode ser resolvido através de outro processo cognitivo?
“Os comportamentos que observamos não deixam grandes dúvidas de que os peixes cumprem, a nível comportamental, os critérios originais do teste“, afirma Alex Jordan, um dos autores do estudo.
“O que é menos claro é se estes comportamentos devem ser considerados como prova de que os peixes têm consciência de si próprios – apesar de, no passado, estes mesmos comportamentos terem sido interpretados como autoconsciência em tantos outros animais”, continua o investigador.
Frans de Waal, um primatologista da Universidade de Emory, nos Estados Unidos, considera o estudo bastante intrigante e, por esse motivo, pede cautela na interpretação. E deixa a questão no ar: “E se a autoconsciência se desenvolver como uma cebola, camada sobre camada, em vez de aparecer de uma vez?”