Alerta de Centeno: meio ano seguido de “destruição líquida de postos de trabalho”

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Manuel de Almeida / Lusa

Banco de Portugal contraria os números do Governo: economia vai crescer (muito) menos do que o previsto.

O Banco de Portugal (BdP) continua a prever um regresso aos saldos orçamentais negativos já este ano, tendo agravado a previsão do défice de 2026 para 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Boletim Económico divulgado hoje.

Já no boletim de dezembro, o último que incluiu projeções orçamentais, o banco central tinha previsto um défice de 0,1% do PIB este ano, previsão que mantém, mas agrava agora a perspetiva do saldo orçamental negativo de 2026 de 1% para 1,3%.

Esta nova previsão contraria a previsão do Governo, que aponta para excedente de 0,3% neste ano e 0,1% em 2026.

Para 2027, a perspetiva do banco central continua a ser de um défice orçamental de 0,9%.

O BdP justifica estas projeções com as “políticas pró-cíclicas expansionistas” que estão a ser aplicadas.

O organismo tem também projeções para o rácio da dívida pública, que deverá continuar a diminuir ao longo do horizonte da projeção, passando de 94,9% em 2024 para 85,8% em 2027, ainda que com um ritmo de redução “inferior ao dos últimos anos”.

No Boletim Económico de junho, a instituição liderada por Mário Centeno alerta que, “embora a posição portuguesa se mantenha favorável no contexto do euro, é fundamental conter a deterioração orçamental, assegurando o cumprimento das regras orçamentais europeias”.

“A elevada dívida pública permanece uma vulnerabilidade”, avisa o BdP, defendendo que “Portugal terá de preservar uma trajetória de redução sustentada do endividamento, tendo presente os desafios estruturais que continuarão a marcar o futuro próximo: investimento público, especialmente na área da transição climática, digital e da defesa e as consequências orçamentais associadas ao envelhecimento da população”.

Mas… até pode ser bom

O economista Ricardo Ferraz lembra que só o Banco de Portugal prevê défices orçamentais para este ano. Mais nenhuma instituição tem essas previsões, para já.

Ricardo avisou na RTP que a despesa corrente tem de facto crescido muito nos últimos anos, com salários e pensões, sobretudo.

Mas, analisou, “é importante que as instituições estejam atentas e que alertem os Governos para o controlo das finanças públicas – que, como sabemos, foi o calcanhar de Aquiles de Portugal durante muito tempo”.

Por isso, os números do Banco de Portugal até podem ter um efeito positivo: “Eu vejo com bons olhos este tipo de avisos, estes alertas, porque normalmente têm efeitos positivos no Governo. De certa forma, espicaçam: ‘Se alguém acha que isto pode acontecer, então vamos fazer tudo para que não aconteça’. Contribui para o controlo das contas”.

No entanto, Ricardo Ferraz tem “muitas dúvidas” de que esta previsão se concretize. Só uma conjuntura externa “muito mais grave” é que originaria um défice orçamental em Portugal.

Alerta sobre o trabalho

O governador do Banco de Portugal alertou hoje para as dinâmicas no mercado de trabalho português, tendo-se verificado uma destruição líquida de postos de trabalho nos últimos seis meses.

Na apresentação do Boletim Económico de junho, em Lisboa, Mário Centeno quis deixar um alerta sobre o mercado de trabalho, que tem sido um “pilar” da atividade económica.

Temos seis meses consecutivos de destruição líquida de postos de trabalho, não de emprego; a última vez que isto aconteceu foi no primeiro trimestre de 2013, é daqueles alertas que cabem ao BdP fazer em áreas sensíveis”, destacou o governador.

Esta área é ainda mais sensível, argumentou, já que “as mudanças no mercado de trabalho tendem a ser abruptas”, mesmo quando não são de grande dimensão.

As primeiras manifestações costumam ser na taxa de contratações e na taxa de destruição de emprego (separações), notou, sendo precisamente nesses indicadores que tem existido uma mudança na tendência nos últimos meses.

Centeno, que está a aproximar-se do final do mandato à frente do BdP, reiterou que deixa este alerta porque “boa parte da saúde da economia portuguesa e da área do euro sustenta-se no mercado de trabalho”.

“E a complacência é algo que devemos evitar em política económica”, acrescentou.

Neste boletim, o BdP prevê um abrandamento do emprego e dos salários, com a taxa de desemprego a manter-se estabilizada em 6,4%.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Com comentários deste tipo, de mero ataque pessoal, sem justificação técnica e financeira com significado, está feita a fotografia da ignorância do Zé Povinho. Depois queixem- se do aperto do cinto do governo que vier a seguir.

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