Alemanha já se prepara para a guerra e põe fábricas automóveis a fazer armas

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Markus Rauchenberger, U.S. Army Europe / Wikipedia

Tanque Leopard 2A6 do exército alemão

Com o ambiente geopolítico cada vez mais tenso e com um novo chanceler à vista, a Alemanha prepara-se para aumentar a produção de armas.

O efeito Donald Trump parece estar a obrigar os países europeus a reforçar a defesa e a abandonar a dependência da proteção dos EUA.

Ainda esta sexta-feira, o primeiro-ministro português Luís Montenegro disse que a Europa não pode “perder mais tempo” a tornar-se competitiva.

Os primeiros passos não deverão ser dados, naturalmente, pelos ‘pés de Portugal’. No entanto, o pensamento entre a generalidade dos líderes do Velho Continente é comum – é preciso investir em defesa.

O provável novo chanceler alemão Friedrich Merz havia dito, antes das eleições, que a grande prioridade do seu mandato seria reforçar a defesa, para abandonar de vez a dependência dos EUA.

“Para mim, será uma prioridade absoluta reforçar a Europa o mais rapidamente possível, para que, passo a passo, deixemos realmente de estar dependentes dos Estados Unidos”, afirmou.

Mudança está em curso

Como aponta o El Condifencial, as mudanças entre grandes empresas europeias já estão em curso – especialmente na Alemanha.

Um grande exemplo disso é a Rheinmetall – o maior fabricante de armas da Europa. A empresa alemã anunciou uma reorganização das suas instalações de Berlim e Neuss.

As fábricas supramencionadas, que até agora fabricavam peças para automóveis, passarão também a produzir munições e outro material de defesa, e funcionarão como fábricas híbridas.

Entretanto, a empresa esclareceu à Reuters que as instalações serão utilizadas para produzir componentes de proteção e mecânicos para uso militar, mas não explosivos.

“É hora de atuar”

“Estamos bem preparados e não há razão para sermos tímidos”, anunciou o diretor-executivo da Rheinmetall, Armin Papperger, citado pelo El Confidencial.

O CEO da empresa acrescentou ainda que “a Europa de atuar agora, para garantir a própria segurança”.

E a Rheinmetall não é a única empresa alemã a reestruturar as transformar os seus espaços em fábricas para produção militar.

No início deste mês, a KNDS Deutschland anunciou a sua intenção de converter a sua fábrica de carruagens ferroviárias em Goerlitz, no leste do país, para a produção de veículos blindados.

Trump tem feito pressão para que a Europa gaste mais com a Defesa – e parece estar a resultar. Esta terça-feira, precisamente dois dias antes de visitar o presidente norte-americano na Casa Branca, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, anunciou um “grande desvio” do seu Orçamento para a Defesa.

É o maior aumento desde o fim da Guerra Fria na despesa em Defesa dos britânicos. Para isto, Starmer cortou a ajuda a países em desenvolvimento.

“Este aumento, a curto prazo, só pode ser financiado através de escolhas difíceis. Isso significa que reduziremos a nossa despesa com a ajuda ao desenvolvimento, passando dos atuais 0,5% do Rendimento Nacional Bruto [RNB] para 0,3% em 2027″, esclareceu o primeiro-ministro britânico, na terça-feira.

“Temos de mudar a nossa postura em matéria de segurança nacional porque um desafio único exige uma resposta única“, disse.

Esta necessidade agigantou-se ainda mais, depois de, esta sexta-feira, de forma algo inesperada, o acordo para a paz na Ucrânia ter levado um grande abanão.

A tão esperada conversa entre Donald Trump e Volodymyr Zelenskyy na Casa Branca foi marcada por um clima de ‘alta tensão’. O presidente dos Estados Unidos acusou o homólogo ucraniano de estar a brincar com a III Guerra Mundial.

Humilhado, o presidente ucraniano foi embora, sem assinar o acordo, depois de Trump ter suspendido as negociações.

Miguel Esteves, ZAP //

6 Comments

    • “O mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos.” —  José Saramago, livro Ensaio sobre a Cegueira

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        • “Como diz Soromenho Marques, ‘a invasão russa da Ucrânia foi uma violação do Direito Internacional’, mas ela foi ‘alimentada por décadas sucessivas de imposição unilateral de medidas hostis aos interesses confessados de Moscovo’. A escalada não começou agora, nem há dois, nem há cinco anos. Nem se deu essencialmente com o recente aumento de produção bélica ou de movimentação de tropas. Deu-se nas reuniões em que políticos decidiram o alargamento sucessivo da NATO após o fim da URSS, destruindo unilateral e paulatinamente a arquitectura de segurança europeia, que só avançou porque era estrategicamente vantajoso para os EUA fechar o cerco à Rússia e quebrar industrialmente a Europa, e, em particular, a Alemanha.”

          Viriato Soromenho-Marques (professor catedrático de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)

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        • “Para aqueles plumitivos censores, traindo esse obscuro conformismo que também mora na nossa tradição cultural, tudo o que não se acolhe na sua grelha bicolor e binária, que arruma os contendores em demónios e anjos, implica uma cedência indesculpável ao “putinismo”…

          Infelizmente, a delicadeza e gravidade da situação militar e política dispensa o daltonismo moralista destes vigilantes da opinião alheia.”
          Viriato Soromenho-Marques (Professor catedrático de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)

    • Mas alguém declarou guerra á europa?
      Ou é só mais uma tática de medo ao estilo do belo virus 19, só que em vez de dinheiro para as farmacêuticas agora é a vez das empresas de armamento… pelo meio já deram uma pinga aos ONG da diversidade

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