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Super-alimentos funcionais. O admirável mundo novo da agricultura do futuro

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A biotecnologia tem potencial para revolucionar a agricultura tal como a conhecemos, graças a novas investigações que estão já a ter efeitos práticos no combate a pragas e doenças e no desenvolvimento de alimentos com características potenciadas, como explica ao ZAP o professor Pedro Fevereiro, presidente do CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.

A agricultura debate-se, actualmente, com diversos desafios que urge resolver o quanto antes, dada a necessidade de alimentar uma população mundial em crescimento e que deverá passar das 7,2 mil milhões de pessoas para 10 mil milhões daqui a 30 anos, segundo as estimativas da ONU.

Num presente marcado por pragas sem solução e por urgências ambientais que colocam cada vez mais pesticidas na lista negra, a biotecnologia surge como uma tábua de salvação, com potencial para revolucionar o sector agrícola. Entre as novas tecnologias em fase de investigação avançada está o chamado RNA de interferência, como explica ao ZAP Pedro Fevereiro que, além de presidente do CiB, é também professor Auxiliar do Departamento de Biologia Vegetal na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Director do Laboratório do Grupo de Biotecnologia Vegetal no Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB NOVA).

O que é a tecnologia RNAi

A tecnologia RNA (ácido ribonucleico) de interferência, ou simplesmente RNAi, permite neutralizar a acção de um gene específico num organismo. Isto significa, de forma simplificada, que se pode colocar um determinado gene em silêncio.

O RNA permite a codificação e a descodificação genética, possibilitando que o ADN seja copiado e transportado para as células durante o processo de produção das proteínas.

Com a sequenciação dos genomas foi possível detectar novos mecanismos de regulação da expressão dos genes. Um desses mecanismos “recorre a pequenas moléculas RNA que se ligam a outras moléculas RNA que servem de intermediárias entre o código que existe no genoma e a síntese das proteínas que são codificadas por esse genoma” e que “impede que as proteínas sejam sintetizadas”, como explica Pedro Fevereiro ao ZAP.

“Como as proteínas são as entidades que conferem a grande maioria das características dos diferentes organismos, se uma determinada proteína não for sintetizada, a característica associada é alterada e deixa de se manifestar“, acrescenta o presidente do CiB. É, por isso, que se fala de RNA de interferência.

A tecnologia já está a ser usada para “alterar geneticamente as plantas”, com a introdução de “um código” direccionado para uma proteína específica, para promover a “resistência a vírus ou a nemátodos“, como acontece com o milho e com a papaia, exemplifica o professor. Contudo, este processo não está ainda autorizado na Europa.

Outra componente da tecnologia RNAi passa pelo desenvolvimento de insecticidas para aspergir as plantas e interferir directamente com os insectos que actuam sobre elas. Neste caso, “é preciso encontrar quais são as proteínas que são produzidas pelos insectos” e que impedem o seu desenvolvimento ou a sua interacção com a planta, como constata Pedro Fevereiro.

Há vários insecticidas desenvolvidos com a tecnologia RNAi que “estão a ser testados” em diversos países, mas, neste momento, não existe ainda nenhum produto aprovado.

CiB - Centro de Informação de Biotecnologia

Pedro Fevereiro, presidente do CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.

“Laboratório colaborativo” está a nascer em Elvas

Em Portugal, estão a ser dados os primeiros passos para fazer investigação na área de pragas e doenças com a tecnologia RNAi. Pedro Fevereiro revela ao ZAP que está “em fase de montagem” um “laboratório colaborativo” em Elvas, nas instalações da antiga Estação de Melhoramento de Plantas, com a intervenção de entidades privadas e públicas, incluindo unidades de investigação da Universidade Nova de Lisboa, nomeadamente o ITQB NOVA, mas também o INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, a ANPROMIS – Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo, a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP), a associação interprofissional Casa do Arroz, a ANPOC – Associação Nacional de Produtores de Cereais, bem como as empresas Bayer e Syngenta.

O envolvimento de todas estas entidades reforça o grande potencial desta biotecnologia para a agricultura, numa altura em que se enfrentam “problemas sérios” no controle de pragas, como atesta o professor. Por um lado, há “pragas novas para as quais não existem soluções”, e por outro, “muitos dos produtos que estavam a ser utilizados tradicionalmente estão a ser proibidos por causa dos impactos negativos para a saúde e para o ambiente”.

Deste modo, há “uma enorme pressão para se encontrarem soluções que sejam mais sustentáveis” em termos ambientais e de saúde humana, o que justifica a aposta na tecnologia RNAi. “Os RNAs são moléculas que existem na natureza“, atesta Pedro Fevereiro, frisando que os seres humanos e as plantas também produzem “pequenos RNAs de interferência”.

Este tipo de tecnologia tem a “particularidade” de ser “muito direccionada para alvos muito específicos”, o que diverge dos pesticidas tradicionais que têm “um espectro muito amplo de actividade”, refere o presidente do CiB.

Assim, o uso de RNAi acarreta “riscos muito mais reduzidos” do que os que normalmente se associam aos pesticidas”, acrescenta Pedro Fevereiro, contestando as críticas que organizações como a Greenpeace atribuem a esta tecnologia e que falam na supressão da expressão de genes noutras espécies, nomeadamente nos seres humanos.

Super-alimentos funcionais

Além do uso no controle de pragas e de doenças na agricultura, a tecnologia RNAi pode vir a ter um papel interessante no desenvolvimento de novos alimentos com características potenciadas.

“O primeiro produto comercial de engenharia genética foi um tomate geneticamente modificado com RNAi para reduzir a síntese de uma proteína que está relacionada com o amadurecimento dos frutos, reduzindo a velocidade do seu amadurecimento“, aponta Pedro Fevereiro ao ZAP.

No caso dos tomates, há outras investigações que visam “aumentar a concentração de licopenos”, a substância que dá a cor aos frutos e que é um composto antioxidante associado à prevenção do cancro, frisa o professor.

Outras pesquisas semelhantes, com vista a alterar as características dos alimentos, estão a ser realizadas.

O RNAi pode, assim, ser utilizado para “criar novos alimentos funcionais, que tenham um efeito funcional na saúde humana”, sustenta ainda o professor.

Nos EUA e no Canadá, já se comercializam maçãs modificadas por RNAi para evitar a oxidação dos frutos quando são cortados. “O acastanhamento das maçãs quando são cortadas é devido a uma proteína que é uma enzima que oxida compostos fenólicos”, atesta Pedro Fevereiro, destacando como a tecnologia está já a melhorar alimentos para consumo humano. As potencialidades para o futuro próximo são infindáveis.

SV, ZAP //

4 Comments

  1. Não quero nada desta porcaria geneticamente modificada.
    Como se já não bastasse a Monsatan estar a destruir o ecossistema todo, ainda querem continuar a alterar tudo ainda mais…

  2. Mais veneno para o povo ingerir, as pessoas nem imaginam o veneno que os alimenta desde fruta a vegetais passando pela carne ou peixe, tudo é cada vez mais artificial e criado à base de químicas, tudo tem que ser criado rápido e dar lucro desde o produtor ao vendedor e muita vigarice existe pelo meio de tudo isto.

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