O aviso foi dado ainda em 2023, sobre o tipo de eleitorado dos dois partidos. Muita gente terá soltado uma gargalhada.
O Chega passou de 386 mil votos para mais de 1 milhão, de 7% para 18%. Tinha 12 deputados, vai passar a ter 48 deputados. Isto comparando 2022 com 2024.
É sempre arriscado fazer transposição directa de votos mas podemos arriscar e apresentar dois motivos para a subida tão evidente do partido liderado por André Ventura, nas eleições legislativas 2024.
O primeiro foi a abstenção. Ou pegando nos números pelo outro lado: o número de votantes. Em 2022 foram votar 5.4 milhões de residentes em Portugal, desta vez foram 6.1 milhões.
São 700 mil votos a mais – precisamente a diferença de votos no Chega, que nestas eleições teve sensivelmente mais 700 mil votos do que nas anteriores.
Mas há outro motivo forte: o PS perdeu quase 500 mil votos.
Muitos eleitores estavam indecisos (falava-se em cerca de 20%) para estas eleições e, em Portugal, historicamente, a maioria dos indecisos situa-se ao centro-esquerda. Ou seja, são apoiantes habituais do PS, mas não comprometidos a 100%.
Este ponto faz-nos recordar uma partilha que fizemos há três meses, no início de Dezembro.
André Abrantes Amaral, advogado, avisou: “Está a haver um encontro do discurso político entre o PS e o Chega. Porque o eleitorado do Chega vai ser o eleitorado do PS”.
E o colunista na rádio Observador deixou exemplos: “Se ouvirmos com atenção, André Ventura moderou bastante o seu discurso político: já não fala dos ciganos. Fala dos pensionistas e falará dos funcionários públicos”
Esses dois partidos, continuou Abrantes Amaral, têm algo em comum: “Uma visão estadista da economia, em que é preciso um Estado forte, que garanta a ordem e a estabilidade social”.
“O eleitorado tradicional do PS começa a perguntar qual será o melhor partido para proteger o seu emprego, o seu bem-estar. E André Ventura está a começar a fazer essa leitura”, analisou André Abrantes Amaral.
Além disso, olhou para sondagens e avisou: “O Chega está a ir buscar votos ao PS”.
Muitos ignoraram, ou até se riram, com esta avaliação. Até entre profissionais da comunicação social. Três meses depois, haverá muitos especialistas a concordar.