Boyan Slat é um jovem de 20 anos com uma missão ambiciosa – livrar os oceanos do planeta dos plásticos flutuantes.
Apesar da idade, há alguns anos que Boyan tenta encontrar maneiras de recolher estes resíduos – e a sua técnica já convenceu entusiastas e patrocinadores dispostos a financiar os seus projetos.
“Não percebo porque é que a palavra ‘obsessivo’ tem uma conotação negativa, mas eu sou obsessivo e gosto disso“, diz Slat. “Tenho uma ideia e vou em frente com ela.”
A ideia surgiu quando Boyan tinha 16 anos, em 2011, enquanto fazia mergulho na Grécia. “Vi mais sacos plásticos do que peixes“, diz. Boyan ficou chocado, e ainda mais chocado ao perceber que não havia nenhuma solução aparente.
“Toda a gente me disse ‘Ah, depois de os plásticos chegarem aos oceanos não há nada que possas fazer com eles ‘, e eu perguntei-me se isso seria verdade”, conta Boyan à BBC.
Nos últimos 30 a 40 anos, milhões de toneladas de plástico chegaram aos oceanos. A produção mundial de plástico é de 288 milhões de toneladas por ano, das quais 10% acabam no oceano. A maioria, 80%, é proveniente de fontes terrestres.
O lixo é arrastado por ralos e esgotos e acaba nos rios. É então transportado pelas correntes para cinco sistemas rotativos de água nos grandes oceanos, chamados giros, o mais famoso dos quais é a enorme Mancha de Lixo do Pacífico, entre o Havai e a Califórnia.
A concentração de plástico nestas áreas é alta – chegam a ser chamadas sopa de plástico – e não fica estática no mesmo local, o que faz com que a limpeza seja um grande desafio.
“Se fôssemos lá tentar limpar com navios, levaria milhares de anos”, diz Boyan, “teria um custo enorme em termos de dinheiro e energia, e os peixes seriam acidentalmente capturados nas redes.”
Quebra-cabeças
Boyan sempre gostou de encontrar soluções para quebra-cabeças e, ao reflectir sobre este em particular, ocorreu-lhe uma pergunta: “em vez de irmos atrás do plástico, porque não aproveitamos as correntes e esperamos que ele chegue até nós?
Ainda na escola secundária, Boyan desenvolveu a sua ideia, como parte de um projecto de Ciências: uma série de barreiras flutuantes, ancoradas no leito do mar, primeiro capturariam e concentrariam os detritos flutuantes.
No modelo de Boyan, o plástico mover-se-ia ao longo das barreiras no sentido de uma plataforma, onde seria, então, extraído de forma eficiente. A corrente oceânica passaria por baixo das barreiras, levando toda a vida marinha flutuante com ela. Não haveria emissões nem redes para a vida marinha se enrodilhar. O plástico recolhido no oceano seria reciclado e transformado em produtos ou em óleo.
O projecto de Boyan foi premiado como Melhor Projecto Técnico da Universidade de Tecnologia Delft. Para a maioria dos adolescentes, as coisas teriam ficado por ai, mas com Boyan a coisa tinha de ser diferente.
Desde muito cedo, Boyan interessou-se por engenharia. “Comecei por construir casas nas árvores… a seguir, coisas maiores”, conta o jovem inventor, “e quando tinha 13 anos, estava muito interessado em foguetes.”
Boyan já tem até um recorde mundial no Guinness, com o maior número de foguetes de água lançados ao mesmo tempo: 213. “Essa experiência ensinou-me a atrair o interesse das pessoas e como abordar patrocinadores“, conta.
Quando Boyan começou a estudar engenharia aeroespacial, na Universidade de Delft, já levava consigo a ideia de limpar os oceanos. Boyan criou então uma fundação chamada The Ocean Cleanup, “A Limpeza do Oceano”, e explicou no TEDx o seu conceito de como os oceanos poderiam ser limpos.
Seis meses depois de entrar na faculdade, Boyan decidiu interromper o curso para tentar tornar o seu projecto uma realidade. Todo o dinheiro que tinha eram 200 euros. Os meses seguintes foram usados à procura de patrocínios.
“Foi muito desanimador porque ninguém estava interessado”, diz Boyan. “Lembro-me de um dia contactar 300 empresas a pedir patrocínios – apenas uma respondeu, e também não deu em nada.”
Mudança brusca
Foi então que, a 26 de março de 2013, meses depois de ter sido publicado, o vídeo de Boyan no TEDx se tornou viral. “Foi inacreditável”, diz Boyan, “de repente, tivemos centenas de milhares de pessoas por dia a visitar o nosso site. Recebia cerca de 1.500 e-mails por dia de pessoas a voluntariar-se para ajudar.”
Boyan recorreu a uma plataforma de crowdfunding, onde recolheu 60 mil euros em 15 dias. Ainda não sabe o que fez com que a sua ideia explodisse de repente, mas diz que foi um grande alívio. “Há um ano atrás, não tinha certeza de que seria bem-sucedido”, diz. “Mas, considerando a importância do problema, era importante pelo menos tentar.”
De acordo com o Programa de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas, há, em média, 13 mil peças de plástico flutuantes por quilómetro quadrado de oceano. Muitas dessas partículas acabam por ser ingeridas acidentalmente pelos animais marinhos, que podem morrer de fome já que o plástico enche seus estômagos.
É uma situação grave – e, por isso, quando Boyan apareceu com uma solução aparentemente simples, começou a fazer manchetes em todo o mundo.
Provas científicas
Depois de ter chamado a atenção do mundo, a primeira coisa que Boyan fez foi desaparecer de vista. Precisava de provas científicas para apoiar a sua teoria. Boyan reuniu uma equipa de 100 pessoas, a maioria voluntários, que foram espalhados por todo o mundo. Durante os estudos, visitou a Mancha de Lixo do Atlântico Norte, onde a plataforma deverá ser construída.
Em junho, um mês antes de fazer 20 anos, Boyan apresentou um relatório de viabilidade, com 530 páginas – e cuja capa foi feita em plástico reciclado. O relatório, baseado em diversos testes e simulações de computador, foi revisto e validado por 70 cientistas e engenheiros. Após o estudo, Boyan pôs em marcha uma nova campanha de financiamento, que desta vez rapidamente atingiu a meta de 1.6 milhões de euros.
Pode um adolescente salvar os oceanos do planeta? O jovem diz que a sua idade não o atrapalhou, e que pode até ser uma vantagem. “Eu não tinha nada a perder, excepto a minha renda bolsa de estudos, portanto, essa não era uma preocupação”, diz o jovem empreendedor. “Se queres fazer alguma coisa, faz o mais rapidamente possível.”