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ADN da população da Ilha de Páscoa permite descobrir, finalmente, a rota dos seus antepassados

(CC0/PD) Wolk9 / Pixabay

Estátuas Moai, na ilha de Páscoa, no Chile

De acordo com os investigadores, o processo constitui um dos capítulos mais fascinantes da história da colonização humana e quase não há vestígios tangíveis.

A distância que separa as ilhas Marquesas, na Polinésia Francesa, do arquipélago de Páscoa ou do Taiti são aproximadamente 1600 quilómetros, mas muito há a unir os dois territórios. Ao longo dos tempos, os investigadores sempre se interrogaram pela origem dos povos das ilhas da Polinésia, que sabiam ter sido dos últimos territórios a ser colonizado mas sobre a qual existem poucas informações relativamente à chegada do homem.

Durante as suas viagens pela região no final do século XVIII, o capitão britânico James Cook percebeu as semelhanças entre as línguas faladas pelos povos do arquipélago da Sociedade e as Ilhas Cook. Este grupo de de línguas, intituladas austronésias, teve origem em Taiwan e é, aos dias de hoje, a família linguística mais difundida do planeta.

As pesquisas linguísticas foram, de resto, essenciais para os especialistas conseguirem chegar às similitudes entre as populações destes territórios e delinear alguns traços sobre a origem e sobre os traços comuns — apesar das dúvidas que insistiam em permanecer.

“Até agora, nenhum estudo tinha sido capaz de localizar o ponto exato dos primeiros assentamentos polinésios”, elucida Andrés Moreno Estrada, investigador do Laboratório Nacional de Genómica para Biodiversidade do México.

A rápida expansão dessas populações confundia os cientistas e não foi até agora, através da da análise ao ADN dos habitantes atuais, que uma equipa de investigadores foi capaz de encontrar a peça que faltava no quebra-cabeça.

“É o genoma destas populações insulares que guarda a história de seus ancestrais”, explica Alexander Ioannidis, outro autor do estudo, que sequenciou o ADN de 430 habitantes de 21 ilhas do Pacífico Sul, amostra que nunca fora analisada nesta região do mundo anteriormente.

“Comparando as pegadas biológicas de uma ilha e de outra, podemos perceber quando é que ocorreu a separação do genoma, mas também quando é que essas populações coexistiram pela última vez”, acrescenta o especialista em genética da Universidade de Stanford, na Califórnia.

Os resultados das primeiras investigações incluem uma cartografia detalhada dos processos de fixação territorial desses pioneiros, que entre os séculos IX e XIII se moveram do oeste para o leste. As primeiras migrações teriam partido das Ilhas Samoa, no oeste, em direção sudeste. Posteriormente, fixaram-se em Rarotonga, a maior das Ilhas Cook, por volta de 830 d.C — com os navegadores a localizar a ilha ao longe graças às colunas de nuvens do relevo vulcânico da ilha.

A migração seguiu então para o noroeste, chegando às Ilhas Sociedade por volta do ano de 1050. Mais tarde, em 1110, essas populações aventuraram-se pelo arquipélago de Tuamotu, formado por várias dezenas de atóis — ilhas de corais, em forma de anel, que rodeia uma lagoa interior —, e pouco povoado atualmente. Na época, essas ilhotas recém-emergidas das águas apresentavam condições de vida bastante favoráveis, com terras agricultáveis e matos jovens.

Segundo Alexander Ioannidis, o arquipélago Tuamotu, parte da Polinésia Francesa (como o Taiti), terá um “desempenhado um papel decisivo na colonização do Pacífico Sul”. “Tuamotu é enorme, uma área equivalente à distância entre a Inglaterra e a Grécia. Os primeiros colonizadores deveriam ter uma cultura marítima altamente desenvolvida para poder navegar de ilha em ilha”, explica.

Esse conhecimento técnico teria permitido aos exploradores navegar milhares de quilómetros. Como tal, o estudo revela que Tuamotu é o ponto de partida das migrações posteriores: para o norte, em direção às Ilhas Marquesas, e para o leste, passando por Mangareva (no arquipélago dos Gambier) no século XII, até o extremo leste, as Ilhas de Páscoa.

“Este estudo é um feito genético que nos permite traçar um cenário muito detalhado” dessa epopeia, comemorou Florent Détroit, paleoantropólogo do Museu Nacional de História Natural da França, em declarações à AFP.

Nesse caso, como aponta esse cientista francês, as semelhanças genéticas corroboram as descobertas arqueológicas. E o estudo publicado esta quarta-feira na Nature aponta a hipótese de que as grandes construções megalíticas, como os moais na Ilha de Páscoa, podem ter uma origem comum em Tuamotu.

ZAP //

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