/

Justiça espanhola absolve médico que roubava bebés para elite do regime

2

J. J. Guillen / EPA

Inés Madrigal foi levada dos pais em 1969 e vendida a um casal pelo médico Eduardo Vela

Eduardo Vela, um ginecologista de 85 anos, estava a ser julgado por crimes de detenção ilegal partos fictícios e falsificação de documentos oficiais. Esta segunda-feira, foi ilibado porque os crimes prescreveram.

Os crimes cometidos por Eduardo Vela, ginecologista espanhol de 85 anos, foram dados como “provados de forma incontestável“. No entanto, isso não impediu que o médico fosse absolvido pelo tribunal considerar que o prazo legal prescreveu em 1987, quando a acusadora atingiu a maioridade.

Inés Madrigal acusou Eduardo Vela de a ter separado da mãe biológica, Inés Pérez, e de falsificar a sua certidão de nascimento, em julho de 1969. Segundo o Observador, este era um julgamento histórico, já que era a primeira vez que o Estado espanhol sentava no banco dos réus um médico por “roubo de bebés“.

A vítima já mostrou intenção de recorrer para o Tribunal Supremo, pelo que a decisão poderá não ficar por aqui. “Temos a obrigação de ir ao Supremo. Creio que há que utilizar esta sentença como um trampolim”, disse Inés Madrigal ao El País.

Para a mulher, de 49 anos, “a sensação é agridoce. É um marco, a primeira sentença de bebés roubados. Reconheceu-se que houve roubo, que me roubaram à minha mãe e isso é um grande passo, ainda que não estejamos de acordo com a prescrição e absolvição de Vela”.

O caso remonta ao início da ditadura franquista (1939-1975), período em que o ginecologista dirigiu a Clínica San Ramon, em Madrid. Segundo o jornal, os bebés eram retirados à nascença aos pais biológicos, muitas vezes com a cumplicidade da Igreja Católica, e dados como mortos sem provas.

As crianças eram, posteriormente, adotadas por casais inférteis próximos do regime “nacional-católico”.

O caso gerou indignação. Cerca de 500 pessoas marcharam pelas ruas da capital em janeiro deste ano, a grande maioria vítimas de roubo de bebés, um crime mais comum do que pensamos.

No passado dia 4 de setembro, cerca de uma dezena de manifestantes juntaram-se junto ao Tribunal Superior de Justiça  exibindo camisolas de algodão amarelas e luvas da mesma cor, em representação das associações de bebés roubados de toda a Espanha. O assunto inunda, de igual forma, as redes sociais.

O Ministério Público espanhol pede 11 anos de prisão para o ex-médico e uma indemnização de cerca de 350 mil euros para a vítima. Já a vítima reivindica 13 anos de prisão para Eduardo Vela e nenhuma indemnização pecuniária.

O propósito de Inés Madrigal é que este caso sirva para abrir outros que terão sido arquivados.

Mais de 2.000 casos arquivados

Apesar dos esforços, Inés Madrigal não conseguiu descobrir nada acerca a identidade dos seus pais biológicos. Apesar disso, tornou-se a primeira mulher a conseguir levar a julgamento um caso deste tipo em Espanha, onde entre 2.000 e 3.000 denúncias semelhantes foram arquivadas por falta de provas ou prescrição dos factos.

Num capítulo menos conhecido da ditadura franquista, estas crianças eram retiradas aos seus pais biológicos após o parto e declaradas mortas, sem a apresentação de provas. O tráfico perdurou na democracia, pelo menos até 1987, por razões económicas.

ZAP // RFI

2 Comments

  1. Lindo!…
    Foi mais um bonito serviço que a igreja ajudou os ditadores a prestar ao povo.
    E este é apenas um de milhares de casos…

  2. Mais um caso VERGONHOSO em que a Igreja está envolvida. Esse homem não deve ser pai, se o fosse deviam-lhe ser retirados os filhos, ou no caso de ser avô, retirarem-lhe os netos (filhos dos filhos) para ele sentir o que é a perda de filho. Há nomes por perder os pais (orfão, por falecer o marido (viúva) ou mulher (viúvo) mas ainda não conseguiram inventar o nome quando se perde um filho ….

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.